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Favas contadas? No boletim de voto, s.f.f.

SÓNIA LOBATO, Jurista

Estamos em Agosto, mês marcado pelo calendário da história como quente e silly. Mas foi o Julho que ditou a temporada, porque contrariou as previsões meteorológicas pessimistas, e foi palco de birras, mentiras, reconciliações e elevadas perdas e ganhos na bolsa.

Paulo Portas fez pela língua portuguesa, o que Acordo Ortográfico ainda não conseguiu fazer: legitimou antónimos, por vontade própria, do mesmo modo que se tornou no primeiro-ministro, eleito apenas com 12%. Caso singular na nossa democracia.

E se a tentação generalizada é apontar mérito ao estratega feirante – inegável é a sua inteligência umbilical – inclino-me para a teoria de que Portas só o é, porque apanhou um Passos Coelho pela frente, que é mas não está.

Muitas críticas vamos colhendo sobre a governação de Passos Coelho, como a alcançou, e como cuida de a manter. Se a par do Museu da Cera, tivéssemos um Museu da Mentira, Passos Coelho, entre tantos outros, seria um Pinóquio visível. Para além das mentiras conhecidas, da teimosia, da arrogância, do amadorismo, da incompetência, do alheamento, quando se julgava que nada de pior poderia vir dele, eis que somos surpreendidos. O alinhamento submisso e espalhafatoso que Passos Coelho concedeu a Paulo Portas, é sinal evidente de fraqueza. E nenhum líder – por pior feitio que tenha – nas especiais circunstâncias em que vivemos, pode demonstrar fraqueza. Passos não dobrou os joelhos, Passos rastejou. E pôs o PSD a rastejar. Tudo em nome da união nacional, leia-se.

Buriladas as diferenças, o selo de amor entre os dois, embaraçaria os belos versos que o Rei Salomão um dia ditou no belo livro de Eclesiastes.

E foi um selo forte. Bastou ver o sorriso de Portas e a vaidade de Coelho, nos dias seguintes.

Até o apetite voltou, se há quem veja recado eleitoral quanto às favas no prato, eu vejo um homem feliz, que outrora andava angustiado e sem apetite.

Reinventaram a relação. Passaram por cima, por baixo. Sem coluna, qualquer posição é adaptável.

Atrevo-me a dizer que fizeram delete. Ou tábua rasa.

E chego a esta conclusão, porque quer um quer outro, falam deste novo tempo, como se estivessem no governo há dois dias, e não HÁ DOIS ANOS.

E esta postura, por muito que nos queiram contagiar felicidade – e recuso a terapia deles – tem uma clara intenção: manipular a opinião dos portugueses e potenciar a memória curta para o que de muito errado eles fizeram. E ninguém apaga da nossa memória, por mais airosa que a saída tenha sido, a figura Vítor Gaspar.

As famílias que declararam insolvência, os casais que perderam os seus empregos, os idosos que evitaram a medicação porque o dinheiro não chegava, as crianças que viveram à sorte de um lanche que o colega de carteira lhe levava, as pequenas e médias empresas – lá do bairro, da nossa rua – que fecharam, os jovens que emigraram, os jovens que se perderam…

E a gritante impunidade – sempre e sempre a impunidade – dos que lesaram a pátria, e se favoreceram com o dinheiro público, sem que sobre eles caísse qualquer responsabilização.

Porque estamos cá nós. Ainda vamos estando, pacíficos e ordeiros, pagando os desmandos e devaneios de outros.

E foi isto que teve a bênção, primeiro do Presidente da República e depois do Parlamento. O momento alto desta “união” foi a moção de confiança. Na verdade, como num casamento, as testemunhas ali presentes validaram a vontade do casal. Os deputados do PSD e CDS disseram “sim, vós, apesar da asneirada feita ao longo de dois anos – sempre com o nosso aval – mereceis continuar. Mas é um continuar sem passado. Recomeçai, com toda a força e com o nosso apoio. Mereceis. “

Mas também como num casamento, houve a oportunidade solene: “se alguém tem alguma coisa contra que fale agora, ou cale-se para sempre”.

Vamos ficar calados?

Ou vamos deixar as favas contadas, não no prato, mas no boletim de voto?

 

Sónia Lobato

Jurista

 

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