Com a pompa e circunstância de muitos anos de tradição, decorreram na Praça do Município em Lisboa as comemorações do feriado de 5 de Outubro, marcadas este ano pelas perguntas insistentes de jornalistas a quererem conhecer alguma coisa que se “deixasse transpirar cá para fora” sobre o último episódio do “caso das armas de Tancos” e aproveitadas também, num sentido de oportunidade duvidoso, pela FENPROF para se fazer ouvir na exigência de aos professores serem contados na íntegra os anos de serviço prestado.
O primeiro ministro não discursou, nada demais, mas o ministro da Defesa Nacional faltou.
Desfilaram nesse dia militares dos três ramos das Forças Armadas e os nossos bravos rapazes (no sentido lato que os há também do sexo feminino) que se dispõem “a servir a Pátria com o sacrifício da própria vida se preciso for” mostraram do que são capazes em situações de crise a salvar vidas e a defender a soberania nacional.
Sua Excelência o ministro que os tutela preferiu ficar em casa, “um direito que lhe assiste em dia de feriado” nas palavras do nosso 1º Ministro, no seu estilo todo zen.
Os ventos não estão, uma vez mais, de feição para o Ministro da Defesa nem nunca estiveram desde o dia em que foi chamado a desempenhar o cargo. Era ele então um discreto e desconhecido chefe de gabinete do presidente da CM do Porto. Desconheço se, em simultâneo, também dava aulas na Universidade Católica onde se doutorou em Direito.
Da opacidade das funções que desempenhava a servir um autarca até chegar ao centro do poder e da fama para ser ministro de Portugal é um grande passo. Tem de se ter estaleca para o ofício. Nunca entendi bem o medo – ou a repugnância – que os políticos da nossa praça têm em escolher militares para chefiarem o Ministério da Defesa.
Pouco meses após tomar posse, já nos corredores dos quartéis e em alguns gabinetes, os militares pediam-lhe a cabeça dada à forma algo “apaisanada” como conduziu e decidiu a agressão de que haviam sido vítimas 3 alunos por parte de 2 colegas mais velhos do Instituto dos Pupilos do Exército. Quer-se a tropa rústica que guerras de alecrim e manjerona não há nos campos da batalha, dizia-se na caserna.
Mais tarde a oposição e a imprensa em geral, e muitos portugueses, incrédulos como eu, abriram a boca de espanto quando disse publicamente não acreditar que tivesse havido furto de material de guerra dos paióis de Tancos!
E virou anedota nacional quando pouco depois o Chefe do Estado Maior do Exército informou em conferência de imprensa que havia sido recuperado todo o material roubado e até uma “caixinha deste tamanho” com alguns artefactos que não constavam da lista.
Se tivesse um pingo de vergonha este ministro ter-se-ia perfilado em frente ao seu chefe nesse mesmo dia e teria apresentado o seu pedido de demissão. É o que fazem as pessoas de carácter.
Não o fez nem o há-de fazer agora, seguramente, não obstante sobre si se ir formando uma nuvem de suspeitas de que estaria ao corrente da encenação montada pelo ex-diretor da Polícia Judiciária Militar para fintar a sua congénere civil na recuperação do material de guerra roubado e que por isso se encontra em prisão preventiva a aguardar julgamento. Uma medida de coação demasiadamente severa, acho eu, para um homem de passado distinto e que assumiu sozinho e com galhardia, “à boa maneira castrense dos tempos da fidalguia”, o erro praticado.
O nosso primeiro ministro sabe driblar como ninguém as contrariedades. Nada lhe tira o sono, como já o disse, e pode-se dizer dele que é todo zen.
Aguentou-se enquanto pôde a defender uma ministra que, por ingenuidade ou falta de experiência, se deixou queimar nos incêndios de Pedrogão Grande.
Há decisões difíceis, mas porque o são não podem deixar de ser tomadas. E, na altura, o Presidente da República lembrou-lhe isso.
A não ser que se prove que o condecorado major Vasco Brazão é um grandessíssimo mentiroso, António Costa tem de se desenvencilhar deste ministro o quanto antes.
Quando não, pode um dia a “bomba de Tancos” explodir-lhe nas mãos.