Era minha intenção escrever hoje sobre as eleições autárquicas que se avizinham, e mandar a propósito alguns recados a quem me lesse sobre um certo desleixo que se nota em Santarém nos últimos tempos no que toca aos serviços de higiene e limpeza e o estado de degradação em que se encontram alguns equipamentos ao serviço dos munícipes, nomeadamente o parque infantil do jardim de São Domingos fechado há mais de um ano por pequenas anomalias, facilmente sanáveis num par de horas, ou à promessa não cumprida pela atual vereação daquela que é ainda a Junta de Freguesia de São Nicolau de asfaltar a estrada da carreira de tiro até à EN 3.
A retumbante vitória, porém, da nossa Seleção no jogo de ontem frente à da Irlanda do Norte, a juntar à goleada que os rapazes dos Sub 21 infligiram no dia anterior aos noruegueses, fizeram-me mudar de rumo.
Será o futebol mais importante que a política e assuntos de natureza social?, perguntarão alguns. E eu respondo que sim, no momento atual estas duas vitórias dos jogadores portugueses, têm para mim mais significado que toda a catrefada de trapalhadas, mentiras e embustes com que os políticos deste país me têm "mimado".
Por via dessa gente, que tem feito do exercício político profissão para servir os seus próprios interesses e das empresas e grupos que representam, muitos de nós temos vivido nos últimos tempos num estado de angústia e ansiedade por que nunca pensamos passar. Não me merecem por isso muita atenção, e menos a minha consideração, essas criaturas que passam nos noticiários da TV e preenchem as páginas dos jornais.
Como tantos outros portugueses, poupando aqui, cortando ali, privando-me disto e daquilo, vou definhando e não espero que melhores dias virão. Nada será como dantes em Portugal e augura-se-me que a corja instalada já abriu caminho para que haja no futuro uma sociedade com apenas duas classes: os pobres ou pouco pobres, com as necessidades básicas mais ou menos asseguradas, e os ricos ou muito ricos, ou seja: o clube da febra e do tinto corrente e o clube do filé mignon e do Rothschild Reserva.
Mas o futebol merece-me hoje toda a atenção. Gosto de futebol, considero que o futebol é um jogo leal, um frente a frente, um combate de homem para homem em que ganha quem tem perna e pulmão. Ver e sentir ontem o pulsar daqueles jogadores à procura da vitória encheram-me de júbilo! Revi-me neles e pude dar largas à minha imaginação sonhando com um país inteiro num retângulo, ombro a ombro a lutar e a dar tudo por tudo na busca de um objectivo comum: vencer!
Notável a atitude, de Cristiano Ronaldo, que fez história ao marcar três golos, quando ao início da segunda parte falou com o arbitro holandês, polícia por sinal, com cortesia e classe serenando o incidente ocorrido na primeira parte do encontro. Honra seja feita ao jovem capitão!
Não me repugna absolutamente nada que Cristiano Ronaldo e outros jogadores ganhem milhões a "correr atrás da bola", como dizem alguns. Não é à minha custa. Indigna-me, isso sim, é o regabofe em que vive o pais político que não me respeita e me suga sem pudor e vive de costas voltadas para o país real.
É a pior das mágoas, a maior das tragédias não produzir uma nação políticos sérios. Precisamos deles, onde estão? Valha-nos, pois, a Seleção e que nos continue a dar algumas alegrias.
Vítor Catulo