Sex, 16 Maio 2025

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Meu Tejo, meu Alviela…

Susanaveigabranco01

Susana Veiga Branco

O meu Tejo é mais do que um Rio, é um conjunto de memórias de infância que remetem para vários factos: um deles é um animal, enorme aos meus olhos na altura, com o mesmo nome do Rio. Companheiro de paciência e meiguice em escala infindável, este cão aturou de bom modo todos os meios devaneios, pelo que a palavra Tejo ficou gravada na minha mente como associada apenas a felicidade.

Quanto ao Rio propriamente dito, na altura, habituei-me a vê-lo do planalto de Santarém. Eu, lá em cima, muito alta para ele que lá em baixo serpenteava lentamente, a passar pela Ribeira, pelas Caneiras…e por aí fora. Rio que atravessa a minha cidade, ao qual se junta mais atrás o Rio que passa pela Freguesia onde os meus avós moravam e onde vivo atualmente, o Alviela, ambos tão lindos e repletos de história e tradição, ambos tão maltratados.

O Rio Tejo é o maior Rio da Península Ibérica, estendendo-se ao longo de 1009kms. Nasce na Serra de Albarracim, Espanha, a 1593m de altitude, e desagua no Atlântico, por um largo estuário com cerca de 260km2, em S. Julião da Barra. A bacia hidrográfica, em Portugal, tem uma capacidade de armazenamento na ordem dos 2750hm3. Recebe da margem esquerda, por exemplo os Rios Sever, Sorraia e Almansor e da direita os Rios Zêzere, Alviela e Maior. Passa por localidades portuguesas como Abrantes, Santarém, Salvaterra de Magos, Vila Franca de Xira, Alverca do Ribatejo, Alcochete, Montijo, Seixal, Almada e Lisboa. Recordando a história, foi do estuário do Tejo que partiram as naus e caravelas dos descobrimentos portugueses e foi ele que inundou Lisboa, no terramoto de 1755.

As dezenas de mouchões, as Ilhas do Tejo, são uma mais valia para a natureza e para o nosso turismo, com milhares de aves, como a Garça-Real, Corvos-Marinhos, Falcões e Águias. A cultura das Aldeias Avieiras e os barcos saveiros, a Ilha dos Cavalos de Alter Real – habitada por poldros lusitanos, a Ilha do Castelo de Almourol, a da Casa branca, a dos Amores e tantas outras formam este tesouro. No entanto, a poluição mata toda a biodiversidade e todo o ecossistema dos Rios, destruindo por arrasto a saúde humana.

O Rio Alviela nasce na Gruta do Alviela, formando uma praia fluvial-Olhos de Água, no concelho de Alcanena, indo até ao de Santarém. Atravessa Vaqueiros, Pernes, São Vicente do Paúl e em Vale de Figueira desagua no Tejo. É um Rio pequeno, com 46Kmde extensão, mas é a mais importante nascente cársica do País. Esta nascente chega a debitar 30m3/seg. Foi uma das principais fontes de abastecimento de água de Lisboa. É considerado um dos Rios mais afetados pela poluição, sofrendo descargas de ETARs industriais e domésticas, entre outras.

Mais memórias me surgem; naquela água tão fresca tomei tantas vezes banho, lá aprendi a dar as primeiras braçadas e brinquei, nas suas margens fiz piqueniques. Os meus filhos não têm essa sorte.

Temos Rios moribundos, assolados por descargas poluidoras legais e ilegais industriais, urbanas, agropecuárias e domésticas, consequente redução drástica de peixe e pesca e ausência de turismo, junto com caudais inferiores à média, temos Rios que sufocam debaixo dos nossos olhos. Há quem se lembre de tomar banho em águas límpidas, de ver o fundo dos Rios e não uma água castanha esverdeada, com cheiro nauseabundo e onde nem podemos colocar os pés descalços, refrescando corpo e mente em dias quentes de verão. A nossa identidade está a morrer e nós a assistir? No ano passado houve 32 denúncias e 12 processos de contraordenação. Chegou-se a encerrar uma fábrica, por drenagem ilegal. Defendo legislação mais apertada, mais fechos, coimas mais pesadas, prisões efetivas dos transgressores, maior vigilância e sobretudo investir na mudança de mentalidades, que como em tudo, é o fundamental. Há que partir de cada um de nós para as gerações futuras, enraizarmos culturalmente que os Rios não são caixotes de lixo, mas uma fonte de riqueza a todos os níveis e com enorme potencial em termos de investimento.

A Quercus considerou a poluição do Tejo como um dos piores acontecimentos ambientais em 2015. Espécies como o barbo e a boga, por exemplo, estão praticamente desaparecidas. Todos estes factos não são significativos? Estes Rios gritam por salvação; gritemos com eles e por eles…

 

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