Estava num café, quando assisti à cena do coelho (animal) enforcado, que ocorreu na Faculdade de Direito, em Lisboa. Podia ser um acto de uma peça de Gil Vicente, aproximada aos dias de hoje, mas não. Senti repulsa quando vi as capas negras erguerem, com orgulho, o dito animal, como se da Bandeira Nacional se tratasse. Senti um misto de tristeza e revolta, ao ver que a geração de “amanhã”, de quem o País tanto precisa, na presença do Primeiro- Ministro, a solução que encontrou, para impressionar, foi um aviso de violência.
Senti uma frustração grande, ao ver que muitos, no lugar de usarem o cérebro, e pensarem por si mesmos, a favor do interesse nacional, e das gerações de ontem, hoje e amanhã, deixam-se manipular por grupos, que têm em vista destabilizar, mas nunca que por nunca, mudar ou ir ao encontro de soluções que reformem o Estado de Direito que não nos serve. Com tantos assuntos na ordem do dia, (da redução da despesa que não se discute, e que a todos interessa saber onde se quer cortar, em que termos e para que efeitos; da poupança real, em números, que já se obteve com a renegociação das PPP´s – alguém sabe? Do fim das regalias, de uma vez, para políticos, e funcionários de empresas publicas no prejuízo), o mais elevado pensamento académico daquelas mentes foi “morte ao coelho”.
E não se lance esta discussão aos extremos, porque isso desvia-nos de discutir o principal. Neste País, se alguém canta o Grândola é comunista. Se alguém enforca um coelho é da esquerda radical. Então, os protestos e as vaias lançadas a Sócrates (sim, sim, foi muito vaiado, façam pesquisa, já que a memória é curta), foram promovidos por fascistas! Irrita-me ouvir as pessoas, das anónimas às que têm responsabilidade politica, carimbar as acções com siglas bolorentas.
O protesto daqueles estudantes é um alerta forte, que não pode ser ignorado pelos nossos Governantes, sob pena, da sociedade civil tomar de assalto, não pela razão, nem pela palavra, mas com violência, a pouca paz social que ainda lhe resta.
E o pior: o pior é perder a razão por coisa sem jeito. Estas atitudes oferecem, a certos desafinados, motivos para termos um Estado autoritário, arrogante e desconfiado dos seus cidadãos.
Nem de perto, nem de longe (espero), este episódio fez-me recuar ao tempo de Sarkozy, quando chamou “canalhas, canalhas” (racaille), aos grupos de estudantes que incendiavam as cidades francesas, provocando o terror. O que lhe valeu na altura? Venceu as eleições. É assim que queremos a mudança? Sendo canalhas permitimos a permanência de outros (os verdadeiros) canalhas.
É verdade que os jovens de hoje enfrentam uma elevadíssima taxa de desemprego. Preocupante. É verdade que o agachamento político, não serve de exemplo aos nossos jovens. É verdade que a corrupção instalada, tem mais exemplos para oferecer, que a honestidade.
É verdade que os jovens têm motivos para se revoltarem e questionarem as demandas de outros, que da realidade nada percebem. Mas façam-no com inteligência. E digo isto, em vésperas de mais uma manifestação. Que seja ordeira, mas representativa, e que não se esgote em hinos, mas menos ainda, no levantar das pedras da calçada.
Por fim, se há, ainda, quem, considere aquele protesto “normal”, ou teima em dar-lhe continuidade, deixo a leitura que uma criança de 10 anos (uma criança que será o jovem de amanhã) fez ao ver aquela peça:
“ Há pena de morte em Portugal? ”
Sónia Lobato
Jurista