Sex, 28 Março 2025

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Os Clubes de Lisboa

Santana Maia Leonardo

Santana-Maia Leonardo

Os campeonatos do mundo são campeonatos entre países, os campeonatos nacionais são campeonatos entre cidades/regiões. E é muito fácil saber a cidade que representa cada clube. Desta vez também não foi excepção. Benfica e Sporting ganharam, respectivamente, o campeonato e a Taça de Portugal e foram naturalmente recebidos pelo presidente da câmara da sua cidade que enalteceu a importância para Lisboa das vitórias dos dois clubes da cidade. O mesmo sucedeu quando o Vitória de Setúbal, o Vitória de Guimarães ou a Académica venceram a Taça de Portugal.

Alguém acha natural que um português torça pela Alemanha ou pelo Brasil num jogo contra Portugal, mesmo reconhecendo que o Brasil e a Alemanha são selecções muito melhores do que a nossa? Aliás, só os oportunistas se passam para o adversário com este argumento. Num confronto entre selecções ou entre clubes, o que se espera de gente honrada é que cada um torça pela selecção do seu país ou pelo clube da sua cidade, independentemente da sua qualidade futebolística. O critério “porque o outro é melhor” é o critério dos lambe-botas, dos oportunistas e dos vendidos.

Fiz no passado dia 5 de Junho, cinquenta anos de sócio do Vitória de Setúbal. Quando saí de Setúbal em 1967, com 9 anos de idade, todos os alunos da minha escola eram do Vitória. Apenas do Vitória. Todos nós nos sentíamos descendentes de Viriato e de Astérix: por muito pequena que fosse a nossa cidade, recusávamo-nos a render ao poder de Roma.

Hoje, infelizmente, Setúbal também já foi tomada pelos romanos e é com tristeza que vejo o Estádio do Bonfim ser transformado num apêndice do Estádio da Luz quando lá vai jogar o Benfica. Será que Setúbal já não tem gente suficiente para encher o Estádio do Bonfim de adeptos do Vitória nos jogos com Benfica, mais que não seja por uma questão de orgulho e de brio? No meu tempo, era preciso ser corajoso para torcer pela equipa adversária no Estádio do Bonfim. Hoje até na bancada dos sócios de vê cachecóis do Benfica, Sporting ou Porto quando estes clubes ali vão jogar.

Tenho hoje uma grande admiração pelos vimaranenses. O Vitória de Guimarães foi fundado por um sócio do Vitória de Setúbal que foi viver para Guimarães. E com ele transportou o mesmo espírito do Vitória e da cidade de Setúbal que ainda perdurava no meu tempo: nunca se render ao poder de Roma. E hoje, para minha grande tristeza, tenho de reconhecer que Guimarães e o seu Vitória são a única aldeia gaulesa que resiste ao poder de Roma.

Mas esta subserviência do povo português ao poder imperial de Roma (os clubes de Lisboa reúnem mais de 70% dos adeptos portugueses, segundo o último estudo da UEFA, o que é uma caso único no futebol mundial e que nos devia envergonhar a todos porque revela um grau de sabujice inqualificável) é bem revelador da nossa hipocrisia. Passamos a vida a gritar contra os grandes, mas nunca nos colocamos ao lado dos pequenos, mesmo quando os pequenos são os nossos. Colocamo-nos impreterivelmente ao lado dos grandes, mesmo contra os nossos e não nutrimos qualquer consideração pelos pequenos.

Em Inglaterra, as receitas da venda dos direitos televisivos são a dividir por todos os clubes em partes iguais. O Chelsea ganha o mesmo que o último classificado. Em Portugal, os grandes, sejam no futebol ou no que quer que seja, ficam com tudo e dão aos pequenos apenas as migalhas. Somos o país da Europa com maiores diferenças entre pobres e ricos e o futebol espelha isso mesmo. Mas não vejo nenhum benfiquista, sportinguista ou portista preocupado com isso. Pelo contrário, ainda acham que o seu clube devia arrecadar mais. Quando fazem parte do clube dos grandes, até os adeptos mais pobres e mais miseráveis, são incapazes de defender os direitos dos clubes mais pequenos e mais pobres.

Estar do lado dos vencedores no futebol não custa nada. Basta escolher um clube ganhador. Difícil é torcer pelos nossos e ajudá-los a ganhar. Quando em Aljubarrota se afrontaram o exército português e o exército castelhano, é bom não esquecer que uma grande maioria de portugueses se colocou ao lado de Castela e pelas mesmas razões que hoje muitos portugueses se colocam ao lado dos grandes de Lisboa contra o clube da sua terra. Em Aljubarrota, só os portugueses de alma grande escolheram o lado de D. Nuno e de Portugal. Ou seja, o lado do seu país independentemente da desproporção das forças em confronto. 

 

 

Ai, Jesus!

A transferência do Jorge Jesus para o Sporting teve, pelo menos, o mérito de nos mostrar, mais uma vez, como no mundo do futebol tudo é efémero e circunstancial, o que ainda torna mais ridículas as contínuas profissões de fé dos adeptos nos seus ídolos com pés de barro. Os mesmos adeptos que num dia davam a vida por Jorge Jesus, no outro tinham vontade de lhe tirar a vida. Esquecem-se os adeptos que o futebol é um negócio. E o negócio rege-se por números.

 

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