Sáb, 12 Julho 2025

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O Meu Testemunho como Militar

Santana Maia Leonardo

Santana-Maia Leonardo

Fui chamado a cumprir o serviço militar obrigatório, em Agosto de 1983, quando estava prestes a passar à reserva territorial. Na altura, estava a iniciar o meu estágio profissional e tinha dois filhos menores com 3 e 2 anos, respectivamente. No entanto, o grande número de objectores de consciência desse ano fez com que eu tivesse sido chamado, quando já não era previsível que fosse.

Face à minha situação familiar e profissional, toda a gente, excepto a minha família directa, me aconselhava a invocar também a objecção de consciência. Acontece que não está no meu ADN familiar fugir à assumpção das minhas obrigações por muito custosas que elas sejam. E apresentei-me na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, no dia 15 de Agosto de 1983.

Cumpri o serviço militar obrigatório na Escola Prática de Infantaria, em Mafra (15/8/1983 a 15/12/1983), onde fui o 1.º Classificado do Curso de Oficiais Milicianos, na minha especialidade, e, no BIMec, em Santa Margarida (1984), onde comandei o pelotão de Morteiros Pesados, na Companhia de Apoio de Combate comandada pelo Capitão Santos, dos Comandos.

O BIMec foi, no entanto, fundamental na minha formação. E num momento em que a “tropa fadanga” volta colocar em causa a “tropa”, quero deixar aqui o meu testemunho de que o ano que passei no BIMec, extremamente duro, sob o comando do Capitão Santos, dos Comandos, foi mais importante na minha formação do que todos os anos que passei na escola e na universidade (duas licenciaturas e, a segunda, nunca a teria conseguido tirar, nas circunstâncias difíceis em que o consegui, se não tivesse servido no BIMec).

Na minha companhia, os oficiais distinguiam-se dos soldados por duas razões: nos exercícios, o oficial era o primeiro a fazê-los; nas refeições, o oficial era o último a ser servido. Este é um ensinamento para a vida. Foi no BIMec que aprendi a diferença entre mandar e comandar. À medida que se sobe na escala hierárquica, aumentam as obrigações e diminuem os direitos.

Conheço muito poucos portugueses cientes desta diferença absolutamente essencial entre mandar e comandar: quem manda dá ordens; quem comanda dá o exemplo. Por isso, abundam por aí os chefes e faltam os líderes. 

Já Camões se queixava disso ao rei D. Sebastião, no final do Canto X de “Os Lusíadas”: «Fazei, Senhor, que nunca os admirados/ Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses,/ Possam dizer que são pera mandados,/ Mais que pera mandar, os Portugueses.» Ora, é precisamente isso que hoje toda a Europa (e não apenas os alemães, franceses, italianos e ingleses) pensa dos portugueses: somos melhores para ser mandados do que para mandar.

Obrigado, meu Capitão!

 

II

Há um ditado japonês de que eu gosto muito porque transcreve uma evidência da qual depende o sucesso das nações, sociedades e associações: “Quando duas pessoas pensam da mesma maneira, uma é dispensável.” E o que se constata em Portugal é que, salvo raras excepções, quase toda a gente é dispensável na medida em que a esmagadora maioria pensa como o seu chefe, ou melhor, nem sequer pensa: limita-se a reproduzir, como um papagaio, o que diz o chefe.

E os chefes portugueses, cientes da sua mediocridade e da sua incompetência, odeiam pessoas inteligentes. É assim nos partidos, nas associações, nas repatições, nas escolas, nas famílias… Desde o berço, há todo um esforço da sociedade portuguesa na formatação do pensamento único, para que ninguém ouse dizer, em voz alta, aquilo que todos vêem: o Rei vai nu.  

Como dizia Bertrand Russell, “o problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas.” É, por isso, absolutamente natural que os nossos chefes, cheios de certezas, tenham horror às pessoas inteligentes.

 

5 Responses

  1. Mon ami comment tu a raison dans ton article.
    Excuse-moi si j’écris mon commentaire en Français mais pour moi c’est plus facile.
    Une fois de plus bravo, et tout de bon pour toi.

  2. Também tive o privilégio de ter conhecido esse Senhor (Major Francês Ferreira dos Santos) e ter servido sob o seu comando (meu 2º Comandante, nessa mesma Grande unidade, à altura a única unidade mecanizada do país) e sei bem do que fala! Tive o grato privilégio de também ter servido o meu país na instituição Exército, com grandes Homens deste país, mas também tive o “desprivilégio” de ter conhecido muitos homenzinhos, que também fazem parte desta vida!

  3. “À medida que se sobe na escala hierárquica, aumentam as obrigações e diminuem os direitos.”
    Mas em Portugal é exactamente o oposto caríssimo, e nas estruturas hierárquicas militares e militarizadas a tradicional pirâmide está a ficar invertida, parece uma “cabaça”, só há mandantes e cada vez menos soldados….

  4. Lembro-me desta incorporação, de Agosto de 1983 em Mafra na EPI, e penso que sei quem era o autor.

    Era eu, na altura, Cmdt. do Pel. TMs da EPI e instrutor dessa especialidade nos diferentes cursos ministrados na Escola.

    Fui, além disso, no meu CGM, incorporação de Agosto de 1982, antes de passar ao COM, na 6ª CI, comandado pelo Capitão João Santos.

    Compreendo perfeitamente as opiniões manifestadas. Se assim não fosse era porque o BIMec tinha dado cabo do Cap. Santos e isso, pelo que conheci dele, nunca iria acontecer.

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5 Responses

  1. Mon ami comment tu a raison dans ton article.
    Excuse-moi si j’écris mon commentaire en Français mais pour moi c’est plus facile.
    Une fois de plus bravo, et tout de bon pour toi.

  2. Também tive o privilégio de ter conhecido esse Senhor (Major Francês Ferreira dos Santos) e ter servido sob o seu comando (meu 2º Comandante, nessa mesma Grande unidade, à altura a única unidade mecanizada do país) e sei bem do que fala! Tive o grato privilégio de também ter servido o meu país na instituição Exército, com grandes Homens deste país, mas também tive o “desprivilégio” de ter conhecido muitos homenzinhos, que também fazem parte desta vida!

  3. “À medida que se sobe na escala hierárquica, aumentam as obrigações e diminuem os direitos.”
    Mas em Portugal é exactamente o oposto caríssimo, e nas estruturas hierárquicas militares e militarizadas a tradicional pirâmide está a ficar invertida, parece uma “cabaça”, só há mandantes e cada vez menos soldados….

  4. Lembro-me desta incorporação, de Agosto de 1983 em Mafra na EPI, e penso que sei quem era o autor.

    Era eu, na altura, Cmdt. do Pel. TMs da EPI e instrutor dessa especialidade nos diferentes cursos ministrados na Escola.

    Fui, além disso, no meu CGM, incorporação de Agosto de 1982, antes de passar ao COM, na 6ª CI, comandado pelo Capitão João Santos.

    Compreendo perfeitamente as opiniões manifestadas. Se assim não fosse era porque o BIMec tinha dado cabo do Cap. Santos e isso, pelo que conheci dele, nunca iria acontecer.

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