Ter, 22 Abril 2025

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As roncas da (nossa) terra

Santana Maia Leonardo

Santana-Maia Leonardo

A arrogância é um dos nossos defeitos mais criticados pelo Padre António Vieira, designadamente no seu sermão de Santo António aos Peixes”: “(…)É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?! Se, com uma linha de coser e um alfinete torcido, vos pode pescar um aleijado, porque haveis de roncar tanto? Mas por isso mesmo roncais. Dizei-me: o espadarte porque não ronca? Porque, ordinariamente, quem tem muita espada, tem pouca língua.(…)”

Ao contrário do que muitas vezes é por aí apregoado, não somos um povo humilde. Pelo contrário, somos subservientes com os superiores (o que é muito diferente de ser humilde) e arrogantes com os subordinados. E somos, assim, não só nas relações hierárquicas dentro das empresas e dos serviços públicos mas também nas relações institucionais. Os governantes (nacionais, regionais ou locais) tratam sempre com desdém qualquer opinião que não seja reverencial. E Lisboa, do alto do seu estatuto supranacional, olha as capitais de distrito com a mesma arrogância e desdém com que estas olham para os municípios e estes para as freguesias. No entanto, basta os nossos governantes passarem a fronteira para, de imediato, assumirem a pose rastejante e o discurso subserviente de pequeno país periférico.

E o futebol retrata, na perfeição, esta nossa tão típica forma de estar na vida. Ao pé do Tondela, do Arouca, do Moreirense, etc., os nossos “grandes” (é assim que toda a gente reverencialmente os trata) são os maiores. Pelo contrário, os “pequenos” são tratados desdenhosamente como se fizessem parte de uma casta inferior e tivessem de agradecer, todos os dias, aos “grandes” a sua existência. Só os “grandes” têm direito a primeiras páginas dos jornais desportivos e a comentadores desportivos em programas diários. Quanto aos jogadores das equipas “pequenas”, se souberem dar um chuto na bola, das duas uma: ou são emprestados pelos “grandes” ou vão ser contratados por um “grande”. Por sua vez, os adeptos dos clubes “pequenos”, de norte ao sul do país, em boa verdade, são de um “grande” e até os dirigentes dos clubes “pequenos” não têm pudor em confessar publicamente o seu amor a um “grande”.

Não há dúvida que, em Portugal, os nossos “grandes” são os maiores mas, depois, sai-lhes o Bayern ou o Barcelona na rifa e são os próprios jornais que, por aqui, veneram, fomentam e promovem a arrogância e a soberba dos “Golias”, a reduzirem os nossos “grandes” ao tamanho ridículo de um pequeno e indefeso peixinho em vias de ser engolido por um enorme tubarão.

II

Rui Vitória é um treinador que tem um perfil que eu aprecio e com que me identifico. A forma como conseguiu manter sempre a sua compostura, sem nunca cair na tentação tão portuguesa de começar também a chafurdar na lama, apesar de todas as provocações a que foi sujeito, designadamente pelo nosso jornalismo de latrina, revela bem o seu carácter e a sua boa formação.

Na vitória, humildade; na derrota, dignidade. Eis o lema dos grandes homens.

Mas este é um perfil que casa mal com o adepto português que, em regra, tem não só mau perder como é extremamente arrogante na hora da vitória. Arrogante com os fracos, subserviente com os fortes. Eis o lema da gente pequenina. E por aqui é o que há mais.

 

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