Qua, 9 Outubro 2024

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A gaivota e a papoila

rui barreiro

RUI BARREIRO

Neste 1º de Maio a lembrança da gaivota que voava voava e da papoila que crescia crescia vem misturada num misto de saudade e indignação e até de uma certa frustração.

Em Maio de 2014, entramos a sério na Primavera deste ano com as notícias de mais aumento de impostos e importa lembrar que a comemoração deste “quarentão”, em democracia, apresenta alguns sinais preocupantes.

Recentemente, numa ocasião social, à volta de uma mesa, percebi que ainda há muita gente fora do mundo real, o mundo do desemprego e do emprego com salários escravizantes e esmagados que nem sequer solidariedade recebe de alguns que convivem connosco.

O salto qualitativo que demos enquanto povo nestes quarenta anos é inequívoco. Hoje também é dia de elogiar os capitães de Abril e tratar todos os que ajudaram a “crescer Portugal” com gratidão e não como quem nada merece e nada fez.

A alguns interessa tratar a chamada classe política como se fossem todos iguais. O poder económico é forte e “manda” cada vez mais interessando-lhe enfraquecer a actividade política. Felizmente, quero dizer que conheço muitos “políticos”, do poder local ao poder central que honraram os valores do 25 de Abril e que também merecem ser saudados neste primeiro de Maio. Certamente que também há dos outros, daqueles que dizem uma coisa e fazem outra, mas hoje não é dia de falar desses.

Hoje é tempo de lembrar os jovens e os mais velhos que ainda acreditam que vale a pena ter ideais. Que vale a pena lutar por um mundo melhor! Tenho muitos que me são queridos que saíram de Portugal nestes tempos mais recentes de democracia e para eles vai, em primeiro lugar, a minha solidariedade e o meu abraço, sobre eles quero dizer que lutarei à minha maneira para que o meu país possa criar riqueza que lhes permita voltar, se assim o entenderem.

Podíamos olhar para 74 e comparar indicadores para perceber que sem o 25 de Abril não teríamos chegado aqui em Liberdade. Sim, em Liberdade conseguimos como povo chegar mais longe. Mas hoje, neste Maio do dia do trabalhador, não posso esquecer os que não conseguem encontrar emprego, ou os que tendo emprego ficam “escravizados” e continuam a empobrecer. Para esses reafirmo que enquanto cidadão tudo farei para que o nosso país melhore.

Temos hoje salários mais baixos, impostos superiores e menores direitos sociais. Esta é uma realidade inequívoca dos últimos anos. Algumas cadeias de supermercados fazem promoções neste Maio insultando os que precisam de esticar o seu salário até final do mês. Confesso a minha indignação e o meu espanto pelo elogio das chamadas cantinas sociais. Será que uma sociedade justa é a que promove a sopa dos pobres?

Honrar os que fizeram o 25 de Abril, os que lutaram pelos direitos dos trabalhadores e os que conseguiram indicadores de desenvolvimento para Portugal é isso mesmo: inconformismo e luta por um país melhor. É tempo de percebermos todos que está nas nossas mãos lutar para melhorar o nosso mundo, pelas nossas atitudes, pelas nossas palavras, pelos nossos exemplos, pela coragem em denunciar a injustiça e exigir a fraternidade.

Na nossa aldeia, no nosso bairro, onde vivemos, nesta Europa que muitas vezes parece não ser a nossa, podemos fazer muito. O exemplo de Salgueiro Maia pode ser seguido. Não só nas comemorações do 25 de Abril. Ele foi o exemplo de quem nada quis mas que ajudou a mudar o nosso futuro comum. Vamos a isso.

“Somos um povo que cerra fileiras, Parte à conquista do pão e da paz. Somos livres, somos livres, não voltaremos atrás”.

Rui Pedro Barreiro

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