Abril, quarenta anos depois. Vale a pena perceber o caminho que fizemos. O que crescemos como povo. O que fizemos bem e o que não fizemos ou fizemos mal. Sim fizemos, porque a responsabilidade é nossa enquanto povo.
É muito fácil desculparmo-nos com os outros. Os governantes, os eleitos, os políticos. E nós? Os cidadãos, os eleitores, os que ficam em casa a criticar, os treinadores de bancada, os contribuintes, os professores, os pais e os jornalistas. Enfim, nós todos nas diferentes qualidades que assumimos ao longo da nossa vida.
Ainda recentemente alguém dizia, num jornal local, que não tinha sido possível evitar a má governação de um autarca famoso da nossa terra. Mas não teria sido mesmo possível? Porque se calaram todos? Porquê? As lógicas de poder dos partidos tornam-nos muitas vezes opacos e as decisões são muitas vezes tomadas, não em nome do bem comum mas da perpetuação no poder, custe o que custar.
O silêncio é imposto em nome da vitória no próximo acto eleitoral, e há sempre um próximo acto eleitoral. Mas a culpa não está só no sistema político. Está também num povo que facilmente se cala, que raramente reclama, que inveja o sucesso e não o trabalho e o estudo.
Um povo que exige dos outros o que não exige de si mesmo. Pouca gente se lembra dos muitos direitos que adquirimos, desde o voto universal até à massificação do acesso à educação.
Mas não conseguimos passar a mensagem: o que é público, do estado, é de todos nós. Para pedir factura precisamos de um sorteio e as grandes empresas mudam a sua sede fiscal para outros países para não pagarem impostos, neste Portugal onde ganham dinheiro e onde os seus trabalhadores levam doses e doses de austeridade em nome do equilíbrio das contas públicas.
Voltando à educação, esta será a grande vitória do 25 de Abril. Infelizmente apressa-se a transformar na grande derrota. Vejamos os indicadores de analfabetismo, de frequência do ensino secundário, do superior e de doutorados antes do 25 de Abril e compare-se com os números de hoje. Que grande salto demos, apesar de estarmos ainda longe dos melhores da Europa. Mas será que educamos bem e fizemos os nossos cidadãos pessoas mais “educadas”?
Vamos olhar para os indicadores da saúde e aí também podemos cantar vitória com um serviço nacional de saúde que nos garante indicadores dos melhores do mundo e podia, felizmente, dar outros exemplos mas vou ficar por aqui!
Salgueiro Maia o que diria, se estivesse hoje por cá?
Quando formamos os nossos jovens e os forçamos a procurar emprego noutros países, quando baixamos os salários em nome de uma suposta produtividade e competitividade da economia e quando maltratamos os nossos idosos?
Na verdade, muito daquilo que foi pensado há cerca de quarenta anos está por cumprir. Mantemos privilégios, não conseguimos erradicar a pobreza e o analfabetismo e temos uma grande diferença entre os muito ricos e os muito pobres!
Vivemos num belo país, mas querem fazer-nos crer que é inviável e condenado a ser pobre, ou melhor, que os seus naturais estão condenados a ser os prestadores de serviço dos que tem direito a usufruir do sol e da praia, da gastronomia e do turismo, das tradições, do azeite, da fruta e do vinho.
Mas, tal como em 1974 está muito do nosso presente e do nosso futuro nas nossas mãos. Assim saibamos perceber que o nosso destino comum é mesmo isso, comum. A esperança num país melhor só fará sentido se o desejarmos e se trabalharmos nesse sentido. A Liberdade de Abril trouxe muitas responsabilidades. Oxalá as saibamos honrar! Os nossos filhos e netos precisam das nossas atitudes de cidadãos!
Rui Pedro de Sousa Barreiro