Sou do Cartaxo, e a minha terra atravessa um período negro da sua história: as ruas têm buracos, os jardins estão por arranjar, a água é no mínimo tão cara como o vinho, o IRS vai aumentar, o IMI vai aumentar, o imposto Derrama vai aumentar, todas as taxas municipais vão aumentar, não existe política de transportes públicos para a malta poder ir trabalhar fora que no Cartaxo não há empregos.
A Câmara não comparticipa os medicamentos dos seniores mais pobres como lhes prometeu, não paga aos fornecedores, e não consegue ter uma única zona industrial digna desse nome em funcionamento. Enfim, na minha terra as coisas boas não vêm de quem deveria trabalhar para os cidadãos, vêm dos próprios cidadãos.
Quem não conhece a minha terra poderá pensar que estávamos todos, pelo menos os eleitos locais, preocupados e envergonhados em arranjar soluções, sem tempo para festas ou delírios.
Mas quem conhece ou é da minha terra sabe que a realidade é outra: enquanto tudo isto acontece, o Presidente da Câmara, na mesma semana em que aumenta em 16% a água aos jardins-de-infância e aos lares de idosos, passeia-se a cavalo na rua principal numa festa de organização popular, como se nada fosse. Quando questionado sobre o facto de ter aumentado a água, diz não o ter feito, diz que apenas reviu e actualizou o tarifário.
Quem conhece ou é da minha terra sabe que o presidente da Junta de Freguesia da Cidade, por exemplo, organizou com muito afã a ida a uma manifestação contra a extinção do seu cargo político. Mas votou, pasme-se, a favor do tal aumento da água aos jardins-de-infância e aos lares de idosos, os mesmos idosos para quem gosta de cantar o fado em excursões que organiza, ao invés de lutar para que lhes pagassem os medicamentos.
Enfim, isto é o flagrante e não falo hoje da “boa” contratação para a Câmara de uma girl, militante do PS, nem vos maço com as almoçaradas e jantaradas, os ralys, os negócios duvidosos ou mesmo a má gestão dos dinheiros públicos.
Toda esta triste realidade levaria a pensar que os responsáveis por estas situações estariam envergonhados, e que só pensariam em ir para as suas vidas fora da política por não terem conseguido estar à altura dos acontecimentos.
Mas não, a falta de vergonha é tanta que até plagiam documentos para ganhar o Partido e manterem-se no poder, na minha terra.
Vergonha na cara? Não têm. Teremos mesmo de ser nós a correr com eles.
Pedro Mendonça
Cidadão do Mundo, Cartaxeiro e tudo