Sex, 23 Maio 2025

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O regresso das trocas entre os novos pobres!

NELSON SILVA LOPES, eleito na Assembleia Municipal de Benavente 

Todos os dias converso com pessoas que já se renderam à ideia de que teremos de empobrecer mais ou menos alegremente. Dizem que contra fatos não há argumentos. Dizem que a culpa é dos mercados, do capitalismo selvagem, dos políticos que se aproveitaram das fraquezas do sistema e de todos os que andaram a viver acima das suas possibilidades.

A culpa é de todos nós que nos deixámos enganar e não agimos perante os sinais e sintomas de uma doença que nos levou à agonia. Não agimos e não estamos a reagir. A sociedade civil está apática, sem energia, acomodada, subserviente. Não temos uma cidadania ativa que contribua para combater as desigualdades e o acentuar das assimetrias.

 É urgente intervir. É preciso lançar um grito de alerta.

Todos os dias conheço novos pobres. Famílias que há menos de 10 anos integravam a classe média. Tinham casa com piscina, carro de marca afamada e frequentavam os bons restaurantes da região. Hoje sobrevivem com a ajuda dos progenitores e tentam evitar recorrer à ajuda das instituições porque a terra é pequena e querem proteger a família duma sociedade que exclui os mais frágeis.

A semana passada, depois de um dia de trabalho, fui visitar um amigo que já foi empresário e que me disse que se cansou de pagar impostos e de trabalhar para um Estado que o deixou de tanga e que agora não se mostra disponível para ajudar a sua família porque tem uma quinta e a esposa está empregada. A família não preenche os critérios para os apoios sociais porque tem património, apesar deste estar refém do banco.

O meu amigo confessou-me que a quinta está a ser paga a um desses bancos que o Estado financiou com o dinheiro dos seus impostos, e está hipotecada. Não pode ser vendida pelo valor abaixo da hipoteca e acima ninguém a compra. O “empresário falido” como ele próprio se intitula, resolveu agarrar-se ao património.

Pouco mais de meio hectare de terra, onde começou a produzir legumes, frutas e animais que dispensa a alguns conhecidos abaixo dos preços de mercado e sem papéis. Uma parte da produção biológica troca por serviços com outros novos pobres, que tal como ele, já não têm dinheiro para ir ao supermercado com a frequência necessária. É o regresso das barganhas da idade média em que os vassalos trocavam produtos entre si.

Na quinta do meu amigo, o homem que mata e desmancha o porco, leva febras, costeletas e enchidos. O canalizador que reparou uma torneira e o autoclismo foi pago com couves, laranjas e um vinho caseiro feito com as uvas que a cepa deu. As explicações de matemática do filho mais velho também são pagas em géneros, tal como o arranjo do carro, que desta vez custou um quarto de vitela.

Enquanto a nossa conversa decorre, a economia paralela continua. Chega um “amigo” que veio trocar uma carrada de lenha por galinhas e coelhos, já amanhados, e prontos a cozinhar. O visitante entra na conversa para dizer que vai levar duas dúzias de ovos para o Professor Joaquim que o leva de boleia aos tratamentos no hospital e recusa receber uma ajuda para a gasolina. Os bombeiros cobram 50 euros e a magra pensão de invalidez que recebe (pouco mais de 400 euros) não permite o luxo de pagar duas viagens mensais.

A economia das trocas penaliza o Estado mas aproxima as pessoas. Reduz a receita fiscal mas enaltece a solidariedade. É um fenómeno que está a ser revitalizado em Portugal mas também noutros países da Europa, que tal como nós, estão a ser asfixiados pela máquina fiscal e a viver uma crise como não há memória. Dizia-me um conceituado historiador que esta crise só teve paralelo na segunda década do Século passado e que ao contrário das crises que se seguiram, não tem fim à vista.

Esta crise veio para ficar e nós temos o “privilégio” de estamos a ser postos à prova. O que não nos mata torna-nos mais fortes para vencer os desafios do futuro. E o futuro começa agora!

 

 Nelson Silva Lopes

*Eleito na Assembleia Municipal de Benavente 

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