O Presidente da República condecorou no dia 10 de junho como Comendador da Ordem do Mérito, o atual presidente da Câmara Municipal de Benavente. O Professor António José Ganhão, 68 anos, foi distinguido pelo seu percurso na vida pública que constitui um exemplo de cidadania ativa e de espírito de missão.
Horas depois da condecoração, transmitida em direto em vários canais televisivos, um velho comunista dizia-me. “Camarada, viu o Tonho Zé a receber a medalha daquele malandro!”
O “Tonho Zé” é o António José Ganhão. O “malandro” é o Presidente da República. É assim que o Constantino, velho comunista os trata.
A condecoração de António José Ganhão só foi uma surpresa para quem não conhece o seu percurso e o respeito que conquistou das entidades com quem se relaciona.
Mais uma vez, o Presidente Ganhão primou pela discrição e só divulgou a honra aos familiares e amigos mais próximos. Recebi a novidade dias antes por um jornalista que tinha a lista das personalidades a condecorar. “Então, o Cavaco vai condecorar um comunista”, dizia o meu camarada da guerra das letras. Senti uma enorme alegria porque o Professor Ganhão é um mestre na forma de estar na vida e eu tive o privilégio de aprender com ele, mesmo nos momentos em que não estivemos de acordo e foram muitos.
Na verdade, António Ganhão é um comunista convicto que nunca abdicou das suas convicções. Conheço bem o percurso de vida deste homem bom, honesto e com elevado espírito humanista e não tenho dúvidas de que se tivesse mudado para um partido do arco governativo, Ganhão teria desempenhado funções na Administração Central. Não o fez porque é um homem honesto que honra os seus compromissos. O PCP também se deve orgulhar desta fidelidade e deve aproveitar esta referência para uma inevitável renovação e adaptação ao novos mundos.
No momento de optar entre receber o salário de Presidente de Câmara e a reforma de Professor optou pela segunda, com uma considerável prejuízo no seu rendimento. Ganhão considera-se Professor, apesar de ter 37 anos de funções públicas como autarca. Diz com convicção que não se é Presidente, está-se nas funções de Presidente. Não conheço outro caso semelhante.
António Ganhão nasceu numa família humilde, cresceu sem ser menino e foi um tio, que, tomando conhecimento da sua inteligência (era um dos melhores alunos do Colégio) e das dificuldades da família, o chamou para estudar em Lisboa. Recordo o momento em que disse que “as crianças pobres não estão condenadas ao fracasso, devem acreditar nos seus sonhos de menino”.
Foi o que fez António Ganhão que em 1976, com pouco mais de 30 anos, trocou a Escola onde lecionava pela vida pública de autarca. Foi eleito vereador em 1976, ficando a 35 votos de ser presidente. Nos mandatos seguintes venceu nove eleições com maioria absoluta, e é hoje um dos autarcas com mais tempo ao serviço do poder local democrático.
António José Ganhão foi vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) durante cerca de 20 anos, foi fundador da Associação dos Municípios da Lezíria do Tejo (AMLT) que reuniu 12 municípios em 1987, sendo vice-presidente da associação que em 2003 se transformou em Comunidade Urbana da Lezíria do Tejo (CULT) e é atualmente a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT).
Uma Lei inaceitável impede o Presidente Ganhão de continuar a fazer o que sempre fez, retirando ao povo o direito de escolher livremente os que considera mais aptos e mais honestos para o representar. Espero que o Professor (não me atrevo a chamar-lhe Comendador porque sei que o irritava) continue ativo na vida pública. Por mim, estou disponível para continuar a aprender…
Nelson Silva Lopes
Eleito na Assembleia Municipal de Benavente