As últimas eleições autárquicas trouxeram uma renovação forçada na maioria dos municípios da região. Por imposição legal, a maioria dos presidentes foi obrigada a sair de cena. Passaram o testemunho aos seus delfins, onde houve continuidade do sentido de voto, porque também tivemos mudanças de cor partidária na Chamusca, em Salvaterra de Magos e Tomar, entre outros.
Esta alteração do quadro de eleitos, criou alguma expectativa junto de quem conhecia os antigos líderes, alguns carismáticos e referências do poder local como António José Ganhão, Sousa Gomes, Sérgio Carrinho ou Dionísio Mendes.
A dúvida seria se os novos eleitos, mais jovens e ansiosos pela chegada da oportunidade, iriam ter a mesma forma de estar e até que ponto teriam aprendido com as virtudes e os erros dos antecessores.
Volvido o período de estado de graça, de que todos os eleitos gozam, já é possível perceber que temos uma geração de autarcas de excelente qualidade. Na generalidade, foram bons alunos e mesmo aqueles que estavam na oposição aprenderam com os erros que foram apontando a quem decidiu.
A nota mais positiva que retiro deste novo ciclo é o espírito de união e de cooperação existente entre os municípios, bem vincado nas Comunidades Intermunicipais da Lezíria do Tejo e do Médio Tejo. Os atuais presidentes estão a dar continuidade às sementes lançadas pelos seus antecessores e que já estão a dar frutos.
As relações entre eleitos dos vários municípios são excelentes, independentemente das cores partidárias de cada um e da defesa intransigente que fazem do seu território e dos seus munícipes. Há um clima de partilha e de confiança.
Com os projetos e as parcerias intermunicipais todos tiram vantagem. Seja nas compras em grupo para todos os municípios da comunidade ou na formação profissional, com ganhos de escala e de valor; seja no empréstimo das máquinas, do carro de recolha dos resíduos ou das tranqueiras para as largadas de touros.
Em alguns municípios, permanece a tendência para minimizar o papel das oposições, mas os eleitos da oposição têm a mesma legitimidade que os que governam, resultante do voto expresso nas urnas, e são fundamentais para que a essência da democracia funcione.
Uma oposição séria, dinâmica, coerente e construtiva é uma vantagem para todos, inclusive para quem tem o poder de decidir. Quem fizer este tipo de oposição, só tem a ganhar e mais facilmente será poder no momento de renovar.
O papel das Assembleias Municipais, órgão deliberativo, com poderes de fiscalização e de acompanhamento da atividade executiva não deve ser descurado. Desde logo deve refletir-se na escolha dos candidatos a “deputados” municipais. Colocar no órgão fiscalizador, pessoas que desempenham cargos de nomeação nos gabinetes de apoio das câmaras ou colaboradores do Município, não me parece a melhor solução.
Por mais honesto que seja, será difícil manter a isenção na hora de apreciar o trabalho do seu líder ou superior hierárquico.
Os “deputados” municipais devem ser pessoas com provas dadas no exercício da cidadania e desprovidas de outros interesses que não seja a missão de servir a comunidade.
Nelson Lopes
*Técnico de Comunicação