Gostava de ter visto debates generalizados. Muitos. De ter viso posicionamentos, motivos e argumentos sobre temas como o tratado transatlântico, em negociação entre USA e EU, a reforma institucional e política da União, o papel do BCE, a Ucrânia e a geoestratégia Europeia, as políticas de imigração, as estratégias para o crescimento e o emprego, a percepção dos cidadãos europeus sobre o estado da União e o crescimento dos populismos radicais e nacionalistas de direita, a questão da relação da nomeação do presidente da Comissão com o voto dos eleitores, … e mais uns outros, suscitados por Merkel e também por Sarkozy.
Mas não. Tomando como pretexto uma posição da CNE sobre o acesso aos media parece que fez acordo deixar os debates praticamente de fora.
Sobre isso quero dizer um par de coisas.
Parece que estamos numa democracia vigiada. Não pela CNE, mas por leis em vigor que, mesmo já fora de tempo, o legislador não muda. Por insensibilidade democrática? Por falta de tempo? Por “não ser oportuno”?
A regulação de espaço público de debate e construção de opinião, de projecto, de estruturação do “comum” e da afirmação do diferente deve existir. Mas deve ter um objectivo, um propósito: facilitar e enriquecer o debate, o esclarecimento, a participação e o envolvimento da comunidade dos cidadãos eleitores.
Deve, por isso, regular e estabelecer as bases dos mínimos democráticosexigíveis de igualdade de tratamento para todos e assegurar, depois disso, a liberdade editorial em função de critérios jornalísticos.
O que é inaceitável é este passar ao lado de um serviço público essencial.
Eu irei votar. A Europa é demasiado importante para a deixar entregue à Senhora Merkel e aos chefes de Estado e de Governo. Eu quero um Parlamento forte. Quero ter voz na decisão para o próximo presidente da Comissão. Sei uma coisa: contra o que votarei. Mas tenho dificuldade em poder dizer em que vou votar. Mesmo sabendo onde votarei. Precisava de saber mais e o actual estado de coisas não mo permitiu.
Outra coisa: hoje (escrevo no sábado de manhã) estarei em silêncio. Reflexivo, dizem eles. Coercivo, digo eu. Até à fila da urna é tempo. É tempo de mais uma opinião, mais um argumento, mais o que seja na construção de um “nós”. Este silêncio imposto é um acto, hoje intolerável, de convicção e consagração legal da menoridade dos cidadãos. Eu, por mim, dispenso e recuso esse paternalismo legal que me quer proteger de ser influenciado pelos outros. Eu quero ser influenciado. Eu quero influenciar. Eu quero participar no jogo adulto e livre do comércio de ideias e razões e motivos e argumentos que nos faz cidadãos a tempo inteiro.
Acabem lá com esta humilhante “contagem de protecção” que os cidadãos dispensam!
Nélson Carvalho