“O neoliberalismo tomou de assalto as universidades”, diz Noam Chomsky. Não sei se foi preciso. As esquerdas já se tinham ido embora. Foi só ocupar um lugar vazio.
A esquerda ficou órfã do Muro de Berlim. A esquerda ficou órfã da globalização.
A esquerda fiou-se em Fukuyama e fiou-se no fim da História. Imaginou que, finalmente, a realização da Razão hegeliana estava aí, na generalização planetária do progresso da democracia liberal e do mercado livre. E este fim da História seria também o fim da necessidade de pensar. O trabalho estava feito e era só ir gerindo …
O regresso brutal da História apanhou a esquerda de mãos vazias.
As novas contradições e as novas linhas de fractura saltavam e a esquerda não tinha como as pensar. Sentava-se nelas.
O neoliberalismo tinha ocupado as universidades, sim. E também os gabinetes e os corredores e as instituições e os bancos e as bruxelas e as governâncias e os partidos e até as ruas …
E passou a chamar-se a isso sentido de responsabilidade e inevitabilidade e “não há alternativa”. E como queremos ser todos responsáveis, acenamos todos com a cabeça, que não se é governo sem dizer que sim. Mesmo que seja um sim menos, um sim mas, a “inevitabilidade” tornou-se a ideologia de não ser precisa ideologia que não seja a da própria inevitabilidade das coisas.
A direita tem uma visão do mundo, uma teoria, uma doutrina, uma ideologia. E pô-la a funcionar e a comandar as coisas o undo e a vida.
A esquerda não tem uma visão do mundo e não parece ter nada que funcione.
Mas precisamos.
Podemos olhar à volta. O que vemos de novo no universo político “ de esquerda” ?
A única coisa que brilha e não é na política (em sentido estrito) e não é “na esquerda” (em sentido político/partidário), é um Papa novo e sem medo e sem pudor de falar e referir e nos surpreender com uma inusitada frescura da velha “doutrina social da Igreja”.Ele diz coisas novas ou repete coisas velhas em gestos novos e novas figurações que inspiram.
Pode ser só uma nova coreografia? Pode. Mas será uma coreografia inspiradora. E uma nova inspiração é o que estamos a precisar.
A esquerda precisa de voltar às universidades. Ser de novo pensamento. Estar onde há um debate, uma controvérsia, uma ideia a saltar, uma teoria nova a sair à rua, uma nova filosofia, uma nova e radical crítica da economia política.
Uma inspiração.
Francisco?
Pelo menos a esquerda gosta dele …
Nélson Carvalho