Já viste bem? Estás entalado pelo Seguro e pelo Portas. Tens quase meio milhão na rua a pedir a tua saída e pouco mais de um ano levas de mandato. Ainda há dias me dizias que 2013 seria o ano de viragem na economia e agora vens dizer-me que é preciso aumentar em 60% a minha contribuição para uma reforma que dificilmente chegarei a ver. Que vou ter cada vez mais impostos às costas, menos salário, menos qualidade de vida, menos feriados, menos amigos empregados. Menos tanta coisa.
Para quê tanta mentira, para quê tanto sofrimento?
Naqueles dias de campanha eleitoral, vendias a ideia de um país bonito, com justiça e igualdade, sem carregar mais nos impostos, sem ir mais ao nosso bolso. Foste um vendedor de ilusões, sabemos hoje.
Obrigas-me a ver os programas da RTP que falam de portugueses com êxito por esse mundo fora e a sonhar com o dia em que o meu país será também assim. Eu também quero ser um “português pelo mundo” cheio de boas estórias para contar, cheio de sorrisos e sonhos e projectos e objectivos e tudo e tudo o que um “português pelo mundo” pode querer. Mas quero sê-lo, aqui. Deixa-me ser feliz no país mais lindo do mundo, o meu, o teu.
Se esta pode ser a terra das oportunidades para o “eng.” Sócrates ou para o “dr.” Relvas, porque não dar a oportunidade de emprego a gente que estudou mesmo, que passou anos nos corredores faculdade e que conseguiu o diploma por efectivo mérito. Investimos tanto no ensino destes jovens para depois os vermos partir, “portugueses pelo mundo” empurrados por uma pátria que insiste nesta teoria errada de que as oportunidades estão do lado de lá da fronteira.
Oh, Pedro! Toma consciência do que estás a fazer a este país, pequeno em área mas grande em valor. Este país que é tão teu quanto da Joana, da Catarina e da Júlia, tuas filhas. Achas mesmo que – já nem digo nós – mas as tuas filhas merecem um futuro assim? Sem certezas, sem alegria, sem luz nem brilho?
Razão tinha O Eça quando afirmava que “políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo”.
Falta mudar tanta coisa.
Falta mudar isto tudo!
Ser-se cego surdo e mudo
entre gente sem cabeça
não é desgraça completa.
É como ser-se poeta
sem que a poesia aconteça.
(excerto de Poema Temperamental, de Joaquim Pessoa)
MARCO OLIVEIRA DOMINGOS
Assessor de comunicação