Há algum tempo que os “mercados” governam o sistema mundial. A lei das finanças e da economia prevalecem às políticas de saúde, educação, ambiente, defesa, trabalho, etc. Não são forças eleitas, nem transparentes, nem bem definidas, mas gerem os nossos destinos conforme os seus interesses não olhando aos danos colaterais, normalmente éticos, humanos e ambientais.
A lei da oferta e da procura parece que se aplica a tudo e a todos os aspetos. Se é raro é dispendioso, se é abundante é de baixo custo. Exemplifica-se muitas vezes com a água do mar, a areia da praia e o ar que respiramos que nada custa porque existe em larga escala.
O que me leva a refletir: E a vida humana? Na nossa história levámos milhares de anos a chegar ao número de 1000 milhões de habitantes no planeta. Foi no século XIX que a humanidade atingiu essa cifra. Porém, em 2011 já eramos 7 mil milhões e estima-se que em 2050 sejamos 9 mil milhões. Ou seja, o crescimento da população está a ser muito mais acelerado nos últimos 200 anos que anteriormente.
Deste modo, somos em abundância, consumimos os recursos naturais do planeta e, para além disso, não o estimamos. E assim voltamos à pergunta, quando vale a vida humana atualmente? O mundo ocidental, hoje em dia, discute muito o aborto e a eutanásia, argumenta-se de forma natural, independentemente das concordâncias ou não, sobre o destino do ser humano, quer no princípio da sua vida, quer no seu fim. São temas da ordem do dia que nos levam a refletir no sentido da vida.
Na televisão surgem imagens de violência nas notícias de guerras e ataques terroristas onde se procura chocar as consciências com o horror e a barbárie, onde a vida não tem valor. Por outro lado, a atual crise dos refugiados revela o estado estratificado das sociedades. A vida humana tem diferentes valores, dependendo do local em que se tem a sorte (ou azar) de nascer. A “cotação” é diferente e desproporcionada e a humanidade também é transacionada por aqueles que, sem escrúpulos, procuram rentabilizar as vidas que são pouco valorizadas neste mundo.
A economia da saúde também se debruça sobre o valor da vida humana. A população envelhece e necessita de assistência e medicamentos que são caros e escassos. Deverá haver para todos até estourar o sistema ou racionamos? Se racionarmos estamos a excluir alguns, os mais raros, os mais caros, para que a maior parte beneficie, mas se houver para todos poderá, daqui a uns tempos, acabar para todos. Que fazer?
Quanto vale a vida humana? Os que trabalham valem mais que os que já trabalharam? Os mais novos que os mais velhos? Os saudáveis que os doentes? Os nacionais que os estrangeiros? Haverá fatores de ponderação? E se houver, quem decide esses fatores? E a dignidade e as condições de vida?
Não poderemos nós mudar o sistema de uma forma realista, exequível, sem utopias, tornando-o mais humano e amigo do planeta? Para refletirmos.