No mês que se comemora o Dia de Portugal, pergunto: O que se passa com o nosso país? Ou melhor, com os portugueses? Parecemos um pouco alheados, vivemos o dia-a-dia no nosso mundinho, preocupados com os nossos interesses pessoais que já são muitos, pensamos nós. O problema é que neste mundinho pouco ou nada entra que seja da comunidade real envolvente, só pela TV ou internet e isso é apenas virtual. O associativismo está em desuso e sobrevive graças ao amor à camisola de alguns. Achamos que existe sempre alguém que faz e que resolve, que as coisas aparecem feitas como um truque de magia… até falhar qualquer coisa.
Cada vez mais não sabemos socializar, juntamo-nos com amigos e daqui a pouco estamos a olhar para os ecrãs dos telemóveis/androids/Ipads/tablets. Tudo é algo exagerado, artificial, supérfluo, impessoal, mas apesar disso, indignamo-nos, protestamos e emocionamo-nos em frente a um ecrã/monitor, onde expressamos todas as emoções, por vezes, incorretamente ou mal-entendidas.
Se o nosso mundinho fica alterado e sem segurança, pensamos, “ainda podia ser pior”. Mesmo que fiquemos desempregados, sem futuro, sem educação, “ainda temos a saúdinha, que é a maior riqueza que temos”, “dá-se um jeito”,”desenrascamo-nos”, sempre a nivelar por baixo, a “atamancar”. Afinal dizem que o país está melhor e que a retoma vem aí, embora não se vislumbrem sinais de melhoria no mundo real. A não ser que seja a toma e retoma e toma e retoma, pancada atrás de pancada, corte atrás de corte, quando já nos habituamos a viver com um determinado sacrifício, eis que surge outro e daí que suponho que seja a “retoma”.
Infelizmente, as pessoas não vêm alternativas, fogem da política sem escutar, sem analisar nem participar. Vêm carreiristas, individualistas, egoístas e poucos idealistas e verdadeiros. A população está envelhecida, a mão-de-obra especializada a emigrar e o emprego precário a crescer ou camuflado com cursos de formação que ocupam, mas não dão futuro nem solidez financeira para constituir uma família e renovar gerações.
A juventude sonha emigrar ou não sonha de todo, abandonando-se ao presente, ao momento sem perspetivas. É claro que não podemos generalizar, mas uma grande parte é assim. Estamos dormentes. O país está melhor, o povo é que não… (já houve quem dissesse isso) mas afinal o que é um país sem o povo? Território verdejante, montanhoso, fértil, mar extenso e subaproveitado porque não há quem aproveite, nem políticas que incentivem?
A informação que passa não é a real que nós sentimos. Os dados estatísticos positivos são empolados e os que não interessam omitidos, as leituras divergem consoante os interesses. O mercado é o regulador, encenador e argumentista nesta novela e as pessoas são números que servem as estatísticas económico-financeiras, juntamente com os produtos, matéria-prima e a moeda.
A violência doméstica cresce. Suicídios? Pouco sabemos. Depressões? Mais que muitas. A pressão contida liberta-se na violência, nos festejos ou num “mix” de ambos.
A escola pública é, nalguns casos, um stress constante para alunos e professores desautorizados e desmotivados, com crianças/jovens mal comportados e sem regras, que não aprendem nem deixam aprender aqueles que querem aprender. E quando a educação é afetada, o contágio é maior, pois alastra-se pelas gerações, os valores invertem-se e agravam-se as clivagens sociais.
Será que é difícil governar um país com tantas potencialidades e recursos? Será que somos um povo tão difícil de se entender? Será que somos irresponsáveis, fatalistas, acomodados? Fazemos como a célebre frase “laissez faire, laissez passer”? Penso que não.
Somos um povo com muitas capacidades e competências, o nosso maior problema é que nos distraímos (ou nos distraem) facilmente. Precisamos de estar mais atentos, não nos fecharmos em nós mesmos e perceber em concreto o que nos está próximo e nos rodeia. Mas agora estamos em Junho o tempo aquece, é a altura do mercado de transferências do futebol, dos Santos Populares, das sardinhadas e das festas taurinas e, claro, da praia. Aí sim, socializamos, depois… logo se vê.