Seg, 12 Maio 2025

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Um país sem crianças não tem futuro

jorge nogueira

Jorge Nogueira

É um susto. E devia provocar um pânico reactivo a todos os que podem fazer alguma coisa para alterar a situação. Mas o que mais se tem visto é um pânico paralisante perante a maior ameaça a que Portugal está exposto.

Em 2015 houve quem lhe chamasse a “Tempestade Demográfica Perfeita”. Em 2016 ela continua ainda mais tempestuosa, mais perfeita e mais devastadora. A nossa demografia está cada vez mais parecida com um cogumelo de uma explosão nuclear e cada vez mais longe de ter qualquer semelhança com a perfeição da pirâmide de base larga.

Estamos a envelhecer a olhos vistos, com a agravante de cada vez sermos menos, mas cada vez mais velhos. Projecções demográficas, a 25 anos, apontam para um aumento de 200 por cento do actual número de pessoas com mais de 85 anos. Já para os maiores de 65 esse futuro, a 25 anos, promete um aumento de 100 por cento.

Como é que se prepara o futuro de um País que perde todos os dias população. Podemos ser, dentro de 25 anos, cerca de 8 milhões de residentes, com a agravante de 4 desses 8 milhões serem maiores de 65 anos.

Como é que se prepara o futuro, quando hoje já existem quase 139 pessoas com mais de 65 anos por cada grupo de 100 jovens com menos de 15 anos. O que é que vamos poder fazer, no futuro, para ultrapassar o facto de, já hoje, apenas sermos 3 indivíduos em idade activa por cada pessoa com mais de 65 anos.

Estas são algumas das questões que, embora há muito tempo conhecidas, ainda não tiveram respostas eficazes. Estas são questões que nos devem preocupar a todos, com especial destaque para quem tenha responsabilidades políticas e de gestão de organizações que lidam directamente com a problemática do envelhecimento da população.

Pouco tem sido feito para estancar a hemorragia demográfica que assola Portugal. E, para agravar ainda mais esta questão, temos também que lidar com a demência dos nossos mais velhos.

Um estudo realizado recentemente pela União das Misericórdias Portuguesas e integrado no projecto Vidas – Valorização e Inovação em Demências dá-nos a conhecer que “nove em cada dez idosos institucionalizados em lares têm alterações cognitivas que sugerem demência e que, dentro deste grupo, 78 por cento tem efectivamente demência.

A investigação que conduziu ao estudo em questão demorou cerca de dois anos a concretizar e envolveu 1.503 idosos de 23 instituições, avaliados por psicólogos e neurologistas de forma a detectarem a existência de alguma forma de demência e qual o seu grau. No final, o referido estudo aponta para que cerca de 90 por cento dos idosos institucionalizados em lares têm alterações cognitivas que sugerem demência, 78 por cento têm efectivamente um quadro de demência. Apenas três por cento dos idosos em lares não têm alterações cognitivas e cerca de oito por cento tem alterações cognitivas, mas sem indicação de demência.

É a fotografia que resulta da projecção dos dados demográficos com os resultados deste estudo, sobre a demência nos mais idosos, que deve fazer soar todas as campainhas de alarme das instituições que têm por obrigação antecipar soluções para estas tempestades.

Todos nós, desde o mais alto magistrado da nação ao mais comum dos cidadãos, passando pelo Governo, autarquias, IPSS, misericórdias e demais sectores inseridos na nossa sociedade, devíamos estar a preparar aquilo que já é uma certeza no nosso futuro.

Penso que temos feito muito pouco e vamos pagar caro a não antecipação de medidas para atenuar a tempestade demográfica perfeita que, como se não bastasse, virá de mãos dadas com uma gravíssima crise ao nível das perturbações mentais dos mais velhos.

Com o que conhecemos hoje e com as previsões que estamos em condições de fazer sobre o futuro (25 anos são o curto prazo) já sabemos que não vamos ter condições para institucionalizar metade da população. Não apenas porque é impraticável do ponto de vista físico, mas também porque as mais recentes correntes apontam para a prestação de cuidados em contexto familiar.

Acredito que no futuro, muito próximo, vamos ter que equacionar como principal actividade das instituições que se dedicam aos mais velhos os cuidados prestados ao domicílio. Antevejo, por isso, que o actual Serviço de Apoio Domiciliário vai ser uma realidade bem mais presente nas nossas comunidades. Penso que só através desse apoio, que os nossos mais velhos necessitam para algumas tarefas do seu dia-a-dia, será possível ao Estado continuar a cumprir o artigo 72º da nossa Constituição.

Quanto às ERPI (Estrutura Residencial para Pessoas Idosas), que ontem se chamavam lares e que amanhã se chamarão outra coisa qualquer, vão ter que continuar a existir, mas com um modelo de funcionamento totalmente diferente daquele que existe nos dias de hoje.

Estas unidades vão ter que se inserir em espaços onde se cruzem várias gerações. Acredito que teremos que transportar para a realidade das comunidades mais idosas a lógica de funcionamento de um bairro, onde se cruzam gerações e diferentes realidades. Bairros habitacionais preparados para uma constante e aprofundada intergeracionalidade será o futuro feito presente para aqueles que hoje têm um pouco mais de 50 anos.

Eu acredito que assim será… só não consigo acreditar é que um país sem crianças e jovens tenha futuro.

Jorge Nogueira

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