Somos e continuamos a ser, como “bons portugueses”, os eternos grandes comentadores, exímios opinadores, mas bem piores executores.
E eu, claro que não sou exceção. Quanto mais não seja, já não o sou ao estar aqui e noutros locais do nosso burgo e da capital, a botar opinião e, por vezes, mais a dizer do que a fazer…
É isso que vou sentindo quando, ora como orador ou como “escrevidor”, ora como espetador mais ou menos discreto, vejo que todos temos uma tendência danada para criticar, seja pela positiva ou seja pela destrutiva, tudo o que os outros dizem,ou pior, o pouco ou o muito que fazem, muitas vezes mais para nos ouvirmos a nós próprios e para que os outros nos oiçam e considerem, do que para termos uma real, concreta e plena intervenção e ação.
Pronto, já desabafei, posso agora continuar esta crónica já mais aliviado!…
E já que comecei por desbroncar um pouquinho – deve ser por estar a escrever já um pouquinho tarde… – vou pegar num assunto, que até não é certamente dos mais importantes neste momento para a nossa cidade e para o nosso concelho, mas que nos permite tirar algumas conclusões pelo menos com o interesse de aceitarmos que este ainda novo século em pouco ou em nada é melhor do que os anteriores a que chamávamos de já gastos e ultrapassados… É que vivemos no século XXI! Já deram por isso, não já?
E pego só num exemplo bem local para ilustrar convenientemente a coisa. É que Santarém não foge à regra. Não é mais do que o reflexo do nosso país, esse tal que dá pelo nome de Portugal.
Quem pode entender que um edifício como o nosso WShopping, tenha sido ilegalmente construído há mais de 10 anos – por diferentes razões, umas bem mais consentâneas com a lógica, outras só por consequência de legislação cega mas nada racional em que o ainda em vigor nosso velhinho PDM é pródigo (mas não é isso que agora vem ao caso…) – e que só agora é que se tenha conhecido a decisão condenatória?
10 anos?! Vivemos na República das Bananas?! Que Justiça é esta num Estado de Direito que tudo tem mas é de torto?!
Claro que ninguém queria que se fosse agora deitar abaixo o WShopping que emprega muita gente, que é importante e interessante para a cidade e para a zona e cuja demolição, até do ponto de vista logístico, seria na prática inexequível pela monstruosidade de entulho que geraria.
Até porque o mal local e nacional, não é este caso particular. Se ele fosse único…
O Grande Mal, é que coisas destas, exemplos destes e outros bem mais relevantes, se repetem amiúde, às centenas e aos milhares por esse país fora. E o Grande Mal é também o que isto tudo traduz de impunidade total…Está-se bem e vão-se fazendo aldrabices sem consequências porque, no mínimo, a punição não é atempada e, como tal, quase sempre é difícil ou mesmo impossível de implementar.
Francisco Mendes