“Não se preocupem com o local onde sepultar o meu corpo. Preocupem-se é com aqueles que querem sepultar o que ajudei a construir”, disse Salgueiro Maia…
E algumas dezenas de anos depois, no mínimo, temos de perguntar: E não está já sepultado e até mesmo bem calcado lá para os confins tudo o que esse Homem ajudou a construir?!
Custa-me que continuemos a comemorar o 25 de Abril aproveitando o dia e a ocasião para, aparentemente com todo o sentido, dizermos que temos de defender os valores de Abril, que muito temos de mudar, que Abril não foi cumprido, e que continuemos a pactuar com aqueles que são os grandes responsáveis por o espírito, a essência e o que se pretendeu com esta revolução terem sido completamente modificados, deturpados e adulterados.
Foi o que muitos fizemos, eu incluído, numa demonstração de pouca coerência com o que aqui escrevo, quando participámos mais ou menos ativamente nas comemorações do 25 de Abril, também em Santarém, mais uma vez este ano. Discursos cheios de boas intenções, mas que acabam por ser inócuos no sentido em que não contribuem para gerar reais e práticos efeitos na nossa vida.
Sentimento semelhante, mas ainda bem mais intenso, tive quando contribuí com intensidade e convicção na mobilização e participação na grande manifestação que teve lugar em 2014, no dia 25 de Abril, no Largo do Carmo em Lisboa, e que tantas esperanças deixou nos larguíssimos milhares de portugueses que ali apareceram naquela manhã. Como é possível termos a incapacidade de deixar passar um ano sem aproveitar aquele potencial que ali se criou?!
E todos somos responsáveis por este “estado a que chegámos “, como já em 74 dizia Salgueiro Maia. Porquê?! Porque “tão ladrão é o que rouba como o que deixa roubar”. E nós, todos nós portugueses, deixamos alegremente que nos roubem sem nada fazermos para o evitar. E pior, vamos (quase) todos logo a seguir, nas próximas eleições em que disso tenhamos possibilidade, votar nos mesmos, no mesmo de sempre…
Ok, podem dizer-me que as alternativas são poucas, que não são credíveis, que as poucas que o são não se unem e dispersam-se por capelinhas… Pois é, e para isso não tenho argumentos, porque acho que quem o disser está certo …
E entretanto, vamos deixando, mesmo aqueles que tiveram a enorme coragem e esperança quase utópica de conseguir mudar há 41 anos atrás, que os tais mesmos de sempre continuem acomodados e a tramar-nos a vida.
Talvez o mereçamos…