O ano de 2013 foi um ano fantástico em eventos e de consagração dos nossos atores da cena política. Vimos o fim da novela “Relvas na universidade” (com a consagração do ator principal a emigrar para um lugar de destaque no Brasil), a série do “astrólogo na lua” também terminou (com a saída do ministro das finanças que não foi capaz de prever uma única coisa), “a revolta dos pastéis de nata que não quiseram emigrar” e levou também à saída de um ministro da economia.
O ponto mais alto, não foram as eleições autárquicas, mas a entrega do óscar “irrevogável” que custou vários milhões de euros aos contribuintes portugueses com a especulação sobre a dívida criada pelos nossos atores de várias décadas.
Tudo cenas bem interessantes, dignas das piores telenovelas mexicanas que passam na tv. A aurora de 2014 começou com a estreia da chegada do D. Sebastião (interpretada por Passos Coelho), depois das tormentas, dos ventos e das tempestades, 2015 será um ano muito melhor.
Ano em que a Economia crescerá, o IRS irá baixar, o emprego existirá em abundância e tudo será melhor a partir daí. Ano de eleições assim exigira a retórica. Será que os portugueses continuarão a comprar as cenas dos próximos episódios? Provavelmente muitos o irão fazer e esquecerão todos esses capítulos, dos cortes que levaram nos seus salários, nas suas pensões, nos subsídios de desemprego (os que ainda o têm).
Mas mais que estes cortes, há um corte que é irreparável: o corte das famílias. O próprio Governo reconhece que entre 100 a 120 mil pessoas estão a sair do país por ano. Ou seja, 1% da população está a sair do país a cada ano. Já não levam malas de cartão. Os únicos cartões que levam são os diplomas de licenciatura, mestrado, pós-graduações, doutoramentos… Cartões que saíram bem caros ao país gerar.
São considerados excelentes profissionais nos países que os acolhem. Inovam, ganham prémios, geram emprego, geram riqueza por aí. Em Portugal, nunca o poderiam fazer com um Estado voraz que tudo quer destruir, gerar uma economia com base nas exportações que compita no preço da mão de obra chinesa. Mas a dimensão humana é dramática. Os pais, os avós, que com imenso sacrifício pagaram os estudos dos seus filhos e netos, vêm-se privados da sua presença, do seu apoio no seu dia a dia, nas suas doenças… na sua vida. Será isso justo?
Rara é a semana em que não recebo CV de jovens licenciados e agora jovens casados com filhos menores a quererem sair de Portugal. O país desfaz-se aos poucos e os que ficam revoltam-se resignadamente. Deixam de votar, afastam-se da vida pública e os de sempre perpetuam- se no poder numa sociedade com as desigualdades a crescerem a cada dia de passa.
Porque será que as pessoas continuam aceitar tudo isto pacificamente? Porque não participam na vida pública? Nem na política, nem nas associações locais, em nada! Se o Estado tem culpa do que o País está a atravessar, cada português tem o dobro da culpa por aceitar tudo isso e nada fazer para mudar. Para que os seus filhos não deixem de estar com eles. Já é tempo do “nobre povo” levantar o esplendor de Portugal. Pelo menos é isso que penso todas as manhãs quando vejo o sol nascer e me lembro “é ali Portugal”.
Arménio Gomes, economista