“Não me sinto culpado nem perante a justiça dos homens, nem perante a minha consciência”, afirmou Manuel Correia na primeira sessão do julgamento do acidente, que começou esta quarta-feira, 5 de maio, no Tribunal de Santarém.
O arguido, de 69 anos, optou por manter-se em silêncio sobre os factos do Despacho de Acusação, mas leu uma declaração escrita onde imputa as responsabilidades às entidades que gerem a ferrovia naquele local, e onde são frequentes os acidentes com comboios.
Recorde-se que Manuel Correia está acusado pelo Ministério Público (MP) por três crimes, um de homicídio negligente, referente à morte de Carlos Moita (o ajudante que seguia consigo no camião), um de ofensa à integridade física negligente, e outro de atentado à segurança de transporte por ar, água ou caminho de ferro.
“Fui eu quem perdi um bom amigo, um companheiro de longa data e de muitas viagens”, acrescentou Manuel Correia, terminando a sua declaração dizendo ao coletivo de juízes que o “Tribunal pode decidir como quiser, mas nunca me vou sentir culpado desta tragédia”.
Os factos remontam a novembro de 2016, quando Manuel Correia tentou atravessar a Linha do Norte ao volante de um pesado que transportava uma retroescavadora no semirreboque.
Segundo o MP, que atribui as responsabilidades do acidente à condução desleixada do arguido, os sinais sonoros já avisavam da aproximação de um comboio e o camião ficou atravessado na linha quando as barreiras de proteção desceram.
No sentido Lisboa – Tomar, circulava dentro dos limites de velocidade o Regional nº 4425, com duas composições, que não conseguiu evitar o embate e acabou por descarrilar alguns metros mais à frente.
O ajudante do motorista, Carlos Moita, de 66 anos, saiu do pesado para tentar levantar as cancelas e acabou colhido com grande violência, tendo tido morte imediata no local.
A colisão com a retroescavadora e o descarrilamento da composição provocou também ferimentos a nove passageiros do Regional que seguia para Tomar.