O principal arguido do processo que envolve quatro militares do posto da GNR de Samora Correia garante estar inocente de 44 dos 45 crimes que lhe são imputados pelo Ministério Público (MP), que o acusa de furto qualificado, corrupção e abuso de poder, entre outros.
Este mega julgamento, que envolve ainda outros 19 arguidos civis, começou esta terça-feira, 19 de abril, no Tribunal de Santarém, onde o Guarda Nuno N., foi o único a ser ouvido.
O militar, o único a apresentar-se fardado perante o coletivo de juízes, negou estar envolvido nos esquemas de furto e venda de metais e sucata, e de fraudes a seguradoras através da simulação de acidentes de viação.
“Nunca roubei nada, nem tive qualquer participação nas coisas que dizem que eu fiz”, afirmou Nuno N., que admitiu apenas ser culpado de um crime de violação do dever de sigilo, por ter “fornecido elementos” de um veículo a um particular “que, na altura, o queria comprar, e queria saber se o carro constava para apreensão”.
O guarda, que está em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional de Tomar, disse nunca ter exercido funções de segurança privado na Incompol, empresa onde ocorreram os furtos, mas admitiu que fazia “trabalhos de manutenção” durante a noite.
Sobre o desaparecimento dos metais e a sua venda a sucateiros, disse desconhecer os factos, mas confessou ter cedido as suas tarefas a um cunhado que precisava de trabalho e dinheiro, também arguido no processo, sem o conhecimento dos donos da empresa.
No entanto, este arguido negou ter trocado o cadeado de um portão lateral para que o cunhado e outros cúmplices tivessem acesso ao interior das instalações, assim como garantiu nunca ter mexido ou tapado as câmaras de videovigilância, como sustenta a acusação.
Para o militar, que foi detido em outubro de 2014, na sequência da operação “Hydra”, da Unidade Fiscal da GNR, é muito estranho que, num caso destes, nenhum dos arguidos tenha sido apanhado em flagrante delito, bem como não compreende como é que a unidade que liderava a investigação tenha demorado tanto tempo até agir, em vez de impedir os furtos.
Nuno N. vai continuar a prestar declarações na próxima sessão do julgamento, a 26 de abril, data em que serão também inquiridos outros dois militares do mesmo posto, Rui A. e Rui R., acusados de um total de 17 crimes.
Dos 27 arguidos iniciais deste mega processo, três não foram pronunciados para ir a julgamento (entre os quais o comandante do posto da GNR de Samora Correia à data dos factos e um outro militar), uma mulher – Ana Trindade da Silva – faleceu entretanto, e um outro homem, que afirma estar a sofrer com desequilíbrios psicológicos, pediu para ser julgado à revelia.