Paulo Martins, o homem que assassinou a esposa em frente à filha de três anos e se enforcou de seguida, estava convocado para se dirigir à GNR de Marinhais na sexta-feira, 3 de Maio, a fim de prestar declarações por denuncias de maus tratos.
Para a família da mulher, Ana Cristina, esta será uma das razões que pode explicar o que terá levado o homem a cometer "esta barbaridade sem explicação nenhuma", segundo Emília Oliveira, uma das irmãs da vítima mortal.
Um dia antes, pelas 7 horas da manhã, o homem agrediu a esposa com golpes de martelo na cabeça e arrastou o seu corpo ensanguentado para a banheira da casa de banho da vivenda do casal, em Marinhais, concelho de Salvaterra de Magos.
A filha, que completou 3 anos em Janeiro, foi trancada num quarto após assistir ao crime.
De seguida, o homem dirigiu-se à garagem e enforcou-se, tendo sido encontrado por volta das 12 horas, após Emília Oliveira ter chamado a GNR ao local.
Revolta contra a inação das autoridades
Emília Oliveira disse à Rede Regional que Paulo andava a pressionar Cristina para retirar as queixas, socorrendo-se inclusivamente da filha menor.
"Na noite antes de morrer, a minha irmão mandou-me mensagens a dizer que a menina lhe tinha ido pedir para perdoar o pai, a seu mando. Como ela não o ia fazer, ele disse à menina que a mãe não tinha coração", relata Emília Oliveira.
Perante a tragédia, a família diz-se "revoltada" com o facto de nem a GNR nem a APAV terem atuado a tempo de evitar a sua morte.
"A minha irmã apresentou várias queixas, a primeira delas em Janeiro, e desde então ninguém fez nada", lamenta Emília Oliveira.
"Ele nunca lhe tinha levantado a mão, mas ameaçou-a de morte muitas vezes e andava sempre a maltratá-la", acrescentou.
Paulo Martins, de 42 anos, operador de empilhador nas Construções Quitério, em Marinhais, e Ana Cristina, de 39 anos, desempregada desde o nascimento da filha, casaram em 2006, um matrimónio que nunca foi um "mar de rosas", segundo os familiares mais próximos.
Segundo os mesmos, Paulo era um homem reservado mas de temperamento difícil e muito possessivo.
O facto de poder vir a perder a vivenda do casal no processo de partilhas era um dos motivos pelos quais Paulo recusava dar o divórcio à mulher, mas nunca nada, segundo os familiares, deixava antever este desfecho.
Tios maternos vão pedir custódia legal da menor
No dia do crime, e após ter sido retirada do quarto pelos militares da GNR, a filha do casal correu para os braços da tia Emília e disse-lhe de imediato que o pai tinha morto a mãe.
O bem-estar da criança é agora a principal preocupação de toda a família, tanto que Emília Oliveira e o marido já decidiram que vão pedir a sua custódia legal.
"Isso será o tribunal a decidir, mas ela tem que estar aqui ao pé de nós, onde se sente bem e conhece toda a gente", afirma a tia.
A menor recebeu assistência psicológica e passou a noite no Hospital de Santarém em observação, acompanhada por familiares, e regressou a Marinhais na sexta-feira, tendo regressado ao colégio e à sua rotina normal.
As cerimónias fúnebres de Ana Cristina Ribeiro ainda não têm data marcada.
A família foi apenas informada que serão na segunda ou terça-feira.