Tinha apenas 15 anos quando construiu a sua primeira invenção: uma máquina de fazer arames em “S” destinada a segurar a telha de canudo.
Abrantino de gema, Manuel Lopes de Sousa nasceu em 1923.
Oriundo de uma família humilde e de poucas posses, tinha apenas 14 anos quando iniciou a sua vida activa como aprendiz de serralheiro.
Ao sentir muitas dificuldades em colocá-lo numa serralharia, o pai ainda teve na ideia que o filho podia seguir a profissão de barbeiro, ofício que Manuel Lopes de Sousa nunca quis seguir.
Optou pelo lugar de aprendiz de serralheiro sem qualquer remuneração, e, num contrato de três anos, ao fim de dois já o patrão entendeu remunerá-lo.
Foi nesta serralharia que ganhou asas a arte e engenho de uma mente criativa, pois Manuel Lopes de Sousa trabalhava fora de horas em peças artísticas de ferro forjado e até fabricava algumas carabinas ligeiras, as velhinhas “flòbér”, de carregar pela culatra ou pela boca, algumas usando como fulminante as cabeças de fósforo de cera, para as quais desenvolveu uma técnica própria.
As primeiras ideias para inventos com resultados práticos surgem-lhe aos 15 anos, idade com que construiu uma máquina de fazer arames em “S” destinado a segurar a telha de canudo.
É uma peça que ainda hoje guarda com grande orgulho e que usa em palestras para fazer esses pequenos arames em “S” e até para produzir alguns, principalmente para a reparação de monumentos que ainda usam este tipo de telhas.
Aos 18 anos, o espírito criativo de Manuel Lopes de Sousa conseguiu adaptar o sistema de bóias flutuantes dos autoclismos, substituindo a boia de metal, que se deteriorava por estar em contacto permanente com a água, por um sistema de lâmpadas fundidas.
“Uma, duas ou três lâmpadas consoante a pressão da água”, explica com orgulho que tem este sistema a funcionar em casa há mais de 45 anos.
Manuel Lopes de Sousa tinha 21 anos quando formou a firma “Baptista & Lopes”, que se dedicava aos trabalhos de canalizações, serralharia civil e artística para muitas partes do país.
Em 1950, forma nova empresa, a “Baptista Lourenço Silva & Lopes”, para entrar também no ramo da reparação automóvel, e é neste ano que constrói as suas próprias instalações para aí continuar com a atividade de serralharia civil, reparação e construção de máquinas agrícolas.
Num trabalho de inovação contínuo, é por esta altura que concebeu e construiu o primeiro descarolador de milho com limpeza total feito em Portugal, para, dois anos depois, lançar o descarolador motorizado em carro próprio rebocável, muitos deles ainda ao serviço em muitas partes do país.
O ano de 1951 tem uma marca especial na vida de Manuel Lopes de Sousa, pois é-lhe patenteada a primeira invenção: recebeu o número 28.890 e é referente a uma máquina de cortar legumes, frutos e tubérculos.
Esta foi a primeira de dez patentes de inventos que criou, alguns dos quais viriam a ganhar medalhas em salões internacionais da especialidade.
Em 1958, construiu e faz aprovar os reboques agrícolas M.L.S., para de seguida criar o primeiro reboque basculante fabricado em Portugal, que era inteiramente produzido e executado nas suas instalações em Abrantes, exceto o cilindro hidráulico que importava da Alemanha.
Foi também aqui que começou o seu fabrico em série e as ações de promoção da sua venda, desde Chaves à Ponta de Sagres.
Em 1965, o empresário abrantino patenteou uma máquina para fender, em contínuo, chumbo esférico usado na pesca à linha, criação que lhe valeu a conquista de uma medalha de prata no Salão Internacional dos Inventores de Bruxelas.
Em 1972, obtém a patente referente a aperfeiçoamentos em máquina para limpeza de cereais, leguminosas e outros produtos, e, durante largos anos, a Metalúrgica Duarte Ferreira, empresa sedeada em Tramagal, comercializa-a em exclusivo, tendo mandado de uma só vez 20 unidades para Angola.
Esta invenção é premiada em 1971 na Feira Internacional de Lisboa, em 1972 com uma medalha de prata no Salão Internacional dos Inventores de Bruxelas e, mais tarde, em 1980 vence o prémio BPA na Feira Nacional de Agricultura de Santarém (prémio que tinha como objetivo galardoar o melhor invento ou inovação em máquinas agrícolas).
Em 1978, Manuel Lopes de Sousa internacionaliza-se ao patentear em Portugal, Espanha e Itália uma máquina para limpeza de azeitona, que, segundo o próprio, é uma máquina que “apresenta o sistema mais simples e eficiente do mundo para aquela operação”.
Além da limpeza de azeitona, também faz um bom trabalho na limpeza de nozes, amêndoas em casca, alhos, avelãs e em grãos de leguminosas antes do processamento industrial, e o invento valeu-lhe, nesse mesmo ano, a medalha de ouro no Salão Internacional de Invenção e Técnicas Novas em Genebra.
Em 1979 ganha, esta máquina repete o prémio BPA na Feira do Ribatejo scalabitana.
Em 1982, desenvolve uma nova patente em Portugal e em França para um aparelho respiratório de proteção para aplicação nasal, que obtém uma medalha de ouro no Salão Mundial de Invenção, Pesquisa e Inovação Industrial de Bruxelas.
Em 2004, o Salão Internacional das Invenções em Genebra atribuiu-lhe uma medalha de Bronze pelo “colhedor de frutos diversos”, um espécie de roca para colher frutos que o próprio descreve como “um poema à criatividade, pois ele é leve, simples e eficiente”.
Fora dos inventos e da longa vida que leva de trabalho afincado, Manuel Lopes de Sousa foi músico na banda da sociedade Instrução Musical de Abrantes e fez parte do grupo musical “Os Canários do Pego”, sendo o trompetista.
No desporto, foi pescador, tendo sido campeão do Amadores de Pesca de Abrantes em 1962 e vice-campeão em 1964.
Em 1982, recebeu a medalha de honra da cidade de Bruxelas, na Bélgica, em 1995 é-lhe entregue a medalha da sua terra natal, Abrantes, pelo papel de relevo na vida comunitária, e, em 2004, passou a ser Oficial da Ordem de Mérito Agrícola Comercial Industrial, distinção que lhe foi colocada ao peito pelo então Presidente da República Jorge Sampaio.
Hoje, com 89 anos, Manuel Lopes de Sousa, continua a trabalhar e a inventar.
Muda de óculos consoante a tarefa, mas continua a querer dizer aos mais novos como criou as suas invenções, entre críticas que vai deixando ao atual sistema de educação.
Todos os jovens têm dotes de criadores, mas os mesmos devem “ser desenvolvidos até aos 20 anos”, segundo defende.
Chamam-lhe o inventor de Abrantes porque nas suas máquinas agrícolas sempre inscreveu a vermelho “MLS” e “Abrantes”.
O lema e ponto de partida para um trabalho criativo, Manuel Lopes de Sousa define numa frase: “cabeça a funcionar, mãos controladas, soluções encontradas e realizadas”.
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