Durante a 24ª Feira do Arroz Doce, a Rede Regional conversou com o atual presidente da Direção, Emílio Baldeante, que está também ligado ao CBES desde a sua fundação, quando há 22 anos assumiu funções como presidente do Conselho Fiscal.
Aos 62 anos, este ex-quadro da EDP dá agora a cara por uma instituição que presta um grande leque de serviços de apoio social a cerca de 150 utentes e emprega diretamente 34 trabalhadores, sendo uma das maiores IPSS’s do concelho de Santarém.
RR – Apesar dos poucos meses volvidos, como é que se está a processar esta transição de uma direção para outra?
EB – É sobretudo uma transição de continuidade, ligada à obra que temos, e que é uma obra enorme e digna do anterior presidente e fundador da instituição. Pretendemos manter todo o historial da instituição e o seu bom funcionamento, e, se possível, melhorá-lo.
Na nossa perspetiva, a instituição precisa agora de se renovar, tentar atrair a juventude para participar nas nossas atividades, ter pessoas mais jovens nos órgãos sociais e, acima de tudo, ser mais aberta à comunidade.
RR – Como se concretiza o que acabou de referir?EB – É um caminho que tem que se ir construindo. Nestes últimos meses, temos tentado chegar às instituições da terra ligadas à juventude, a começar pelos Escuteiros, que têm algum peso e relevo na freguesia, e queremos apostar muito no fortalecimento desta relação. Nesta feira do arroz doce, por exemplo, foram criadas algumas condições especiais para eles, como uma tendinha para venderem alguns produtos e mostrar as suas atividades, e estamos a criar espaços na instituição para desportos que eles podem dinamizar, como é o caso da parede de escalada que vai ser inaugurada durante a feira, e que vai lá ficar para que a possam utilizar.
O objetivo é conseguir que a juventude participe regularmente nas nossas atividades periódicas, como a festa do arroz doce, a festa das sopas, a feira do azeite e outros eventos ao longo do ano. Os eventos que realizamos serão uma das formas de nos abrirmos à comunidade e de convidar as pessoas a partilhar das nossas instalações, e assim também garantimos a sua continuidade, pois são uma forma de angariar fundos para a instituição, mesmo pelo pouco que se consiga. E é também uma forma de chamar os mais novos para, um dia, poderem interessar-se em fazer parte dos órgãos sociais da instituição.
RR – Em termos financeiros, como está a situação do CBES?
EB – Mesmo sabendo que todas as instituições da chamada economia social enfrentam sempre grandes dificuldades não só em termos financeiros, mas também de recursos humanos, podemos dizer que a nossa situação está estabilizada, no seu dia a dia. Não temos fundos para avançar com grandes projetos em nome próprio, mas o funcionamento normal da instituição e a qualidade dos serviços que presta está assegurada, o que era a nossa preocupação central durante um primeiro período de organização interna. Com a instituição estabilizada, o objetivo agora é melhorar aquilo que é possível melhorar.
RR – Neste momento, quais são as valências que o CBES gere e quais são os serviços que presta à comunidade?
EB – Em primeiro lugar, temos a nossa Estrutura Residencial para Idosos (ERPI), com 46 utentes, e mantemos o Centro de Dia, com o respetivo apoio domiciliário, que tem neste momento cerca de 70 utentes, e cujo edifício está a atravessar uma remodelação total das suas instalações na parte das águas, das instalações elétricas e da climatização do espaço, entre outras, numa obra que está em fase de conclusão.
O apoio domiciliário divide-se entre todos os serviços que o utente escolhe, desde a alimentação à higiene pessoal, aos cuidados de roupa ou à limpeza da habitação. E temos ainda as cantinas sociais, e estamos também a lançar um serviço de apoio psicológico, com uma psicóloga que trabalha no terreno e se desloca à casa das pessoas. Mantemos uma equipa de enfermagem, uma fisioterapeuta, a sala de snoozelen, pilates e estamos a tentar criar um ginásio aberto à comunidade.
Importa ainda referir duas coisas, pois estamos a concluir a vedação de todo o espaço à volta das instalações e teremos um novo jardim sensorial, que será inaugurado em breve. A vedação do complexo, da qual falta apenas colocar o portão de entrada, está a ser feita por questões segurança, até porque temos vários utentes com demências e temos que exercer uma vigilância permanente sobre eles.
No que se refere ao jardim sensorial, penso que é uma obra muito bonita, e que queremos que seja um ponto de encontro entre os utentes das várias valências do CBES, promovendo a confraternização e o convívio entre todos. Chama-se jardim sensorial porque tem zonas pedonais diferentes, com pisos de seixo, pedras, madeira e relva, e que permite aos utentes ter sensações diferentes quando caminham, tendo em conta as suas idades ou condição de saúde.
Por fim, temos ainda quatro residências assistidas, todas ocupadas, onde são prestados todos os serviços da ERPI, mas no espaço próprio dos utentes, como se estivessem na sua casa. Esta é uma das áreas que queremos desenvolver no futuro porque temos que criar condições para acolher uma nova geração de idosos.
RR – Pegando na sua expressão, o que é “uma nova geração de idosos”?EB – Ora bem, são pessoas que hoje andam pelos 50 / 60 anos, e que têm interesses e necessidades muito diferentes dos utentes que hoje temos na estrutura do ERPI, com 80 / 90 anos, e que não querem um lar de idosos nos moldes em que este funciona tradicionalmente. São pessoas que valorizam muito mais a sua privacidade e que se preocupam muito mais com o acesso às novas tecnologias da comunicação, por exemplo.
Nós temos que saber olhar para isto porque é uma geração diferente, e que procura um relacionamento diferente com a instituição que os acolhe, a nível dos serviços que lhes são prestados e da partilha do espaço. Julgamos que é uma área em que devemos apostar, no futuro, sobretudo com o desenvolvimento do conceito das residências assistidas.
RR – E como se coloca em prática este conceito?
EB – Para já, temos ideias e um esboço ainda muito rudimentar do que pretendemos fazer, até porque precisamos de resolver alguns problemas a nível do PDM e não dispomos de fundos próprios para lançar projetos desta envergadura financeira, pelo que teremos de recorrer sempre a programas de apoio do Estado ou da Europa.
Caso seja possível, o passo seguinte será no sentido de ir um pouco além das atuais residências assistidas, que até podem passar a ser vivendas assistidas, com 1º andar e mais espaços de lazer, com pequenos jardins e outras comodidades. Os utentes são livres de frequentar os espaços comuns, retirando-se depois para as suas casas quando quiserem momentos de privacidade. Não há aquele ambiente que se vive num lar de idosos tradicional, em que os utentes estão todo o dia em contato uns com os outros, mas todos podem dispor dos serviços de assistência comuns que prestamos.