Um casal residente na Fajarda, concelho de Coruche, foi acusado pelo Ministério Público de sequestro, extorsão e violência doméstica por ter mantido a mãe e o irmão do elemento masculino do casal, deficiente profundo, em cativeiro mais de um ano.
Segundo o despacho de acusação, revelado esta quinta-feira pela agência Lusa, o filho (52 anos) e a nora (49 anos) de Jacinta Formigo, mãe do ofendido Carlos Bento mantiveram, entre julho de 2008 e agosto de 2009, as duas vítimas – atualmente com 72 e 45 anos – "presas em casa a cadeado, isoladas e sem contacto com o exterior", tendo ambos "passado fome e sede, sofrido maus-tratos, além de terem sido privados de cuidados de higiene e médicos".
Segundo a mesma fonte, o MP sustenta que o casal, com a "cumplicidade e o auxílio" de duas filhas (netas da ofendida), de 21 e 26 anos, e de uma nora, de 33 anos – também arguidas no processo – "delineou um plano e obrigou" Jacinta Formigo a abrir uma conta bancária em nome do filho, passando os cinco arguidos a usufruir de "todas as quantias depositadas", nomeadamente a reforma da idosa e duas pensões.
A acusação refere que Jacinta Formigo e o filho, Carlos Bento – portador de deficiência profunda do foro psiquiátrico, associada a deficiência motora e dependente de terceiros para cuidar da higiene, alimentação, saúde e comunicação – passaram a morar na casa dos arguidos, a partir de 2005, ano em que começaram logo os problemas.
As vítimas estiveram "encarceradas 57 semanas", em quartos separados, período durante o qual a mulher foi "reiteradamente agredida com bofetadas, murros e pancadas na cabeça" pelo filho e nora, que também agrediram Carlos Bento e o obrigaram a dormir num colchão forrado com plástico.
O MP acrescenta que o ofendido, "por sofrer de doença mental e ser privado de alimentos, chegou a comer pedaços de lençol e de cobertor".
O julgamento, com 26 testemunhas, vai decorrer no Tribunal de Coruche, mas ainda não há data para o seu início.