Ofélia Marques já não vai precisar de percorrer a pé os seis quilómetros que separam a aldeia de Vaqueiros do centro de saúde mais próximo, em Pernes, para levar a filha deficiente ao médico, empurrando a sua cadeira de rodas ao longo da movimentada Estrada Nacional 3.
As duas mudaram-se na tarde de sexta-feira, 4 de abril, para uma residência unifamiliar da Santa Casa da Misericórdia de Pernes, que se ofereceu para as acolher após ter tido conhecimento do caso.
“Apesar de não estar entre as pessoas com quem contato todos os dias, estou contente”, disse Ofélia Marques à Rede Regional, já na nova casa, onde acrescentou que o mais importante era ter condições para continuar a cuidar da filha, que sofre de paralisia cerebral desde bebé.
Têm agora uma cozinha ampla, um quarto com duas camas, uma delas adaptada, e um WC com todas as condições para a higiene de Patrícia.
Para trás, fica para já a velha habitação na aldeia de Vaqueiros, sem condições de habitabilidade para uma mulher de 52 anos com uma filha deficiente, de 32, a seu cargo.
Rede Social do concelho viu-se na obrigação de intervir
O drama desta família chegou ao conhecimento do ministro da Saúde e foi mesmo debatido na Assembleia da República pelo próprio Paulo Macedo após ter ganho ampla repercussão mediática.
A tutela prometeu resolver o caso, mas, para já, foram a Câmara de Santarém e a Santa Casa da Misericórdia de Pernes quem encontraram esta solução provisória para um caso de emergência social que necessitava de uma resposta urgente.
“Quando tive conhecimento do caso, meti os pés ao caminho e quis ver com os meus próprios olhos a situação desta família. Confesso que encontrei um cenário que me fez sofrer, enquanto ser humano”, disse à Rede Regional Susana Pita Soares, a vereadora com o pelouro da ação social da Câmara de Santarém, que, de seguida, contatou os restantes parceiros da rede do concelho no sentido de ser encontrada uma solução para Ofélia Marques e Patrícia.
Foi a Santa Casa da Misericórdia de Pernes quem aceitou acolhê-las numa das suas residências unifamiliares.
“Apesar de sermos uma instituição vocacionada para a assistência à terceira idade, não podíamos fechar os olhos a um caso destes”, explicou o provedor da instituição, Manuel Maia Frazão, acrescentando que a Santa Casa quis “logo de imediato, dar uma solução ao caso. Há aqui uma obrigação social de fazer com que esta família tenha condições de habitabilidade dignas e condignas”.
Realojamento em Pernes é apenas transitório
Esta é, no entanto, uma solução transitória, pois Ofélia Marques e a filha vão morar na residência da Santa Casa de Pernes durante um máximo de 60 dias.
Durante este período, a Segurança Social, que tinha esta situação de carência sinalizada há vários meses, vai tomar uma decisão sobre este processo, e decidir qual o encaminhamento a dar a esta mãe e filha.
Com tudo ainda em aberto, uma das soluções poderá passar pela institucionalização e consequente separação de ambas, uma hipótese de que Ofélia Marques nem sequer quer ouvir falar.
Para evitar este cenário, a Câmara de Santarém já disponibilizou uma habitação social em Vaqueiros, que precisa apenas de pequenas reparações e da construção de uma casa de banho adaptada.
“Se os técnicos decidirem que essa é a melhor solução para a Patrícia, a Câmara está disposta a proceder a obras de remodelação nessa habitação para que mãe e filha possam permanecer juntas, com o apoio que a Santa Casa da Misericórdia de Pernes se dispõe a prestar”, garantiu Susana Pita Soares.