Ricardo Costa é o presidente de Junta de Freguesia mais antigo do concelho: leva 27 anos de cargo, 24 deles à frente da antiga Junta de São Vicente do Paul, tendo sido reeleito em seis mandatos consecutivos desde 1989.
Neste momento, está prestes a completar três anos à frente de uma nova experiência administrativa, a União de Freguesias de São Vicente e Vale de Figueira, após ter vencido as últimas eleições autárquicas encabeçando um movimento independente, o MIFU.
Depois de um início de mandato com algumas perturbações, todo o executivo que gere a segunda maior freguesia rural do concelho de Santarém diz trabalhar de mãos dadas e garante ter os olhos postos no futuro, em nome das populações que servem.
Nesta entrevista, a Rede Regional foi ouvir de viva voz não só Ricardo Costa, mas também a presidente da Assembleia de Freguesia, Susana Veiga Branco, que tem sido o braço direito do autarca.
Rede Regional: Que balanço é possível fazer destes quase três anos do atual mandato?
Ricardo Costa: A União de Freguesias foi uma realidade nova, logo, inicialmente difícil. Mas com o cuidado de respeitar a individualidade de cada freguesia, nomeadamente a cultura, as tradições e a sua forma de estar, e trabalhando com afinco, consideramos o balanço positivo, conseguindo cumprir na maioria com o programado, apesar das muitas dificuldades económicas que têm assolado o país.
RR: E como está a situação económica da União de Freguesias?
RC: Neste momento, temos uma situação económica estável e com saldo positivo, em que cumprimos com os nossos fornecedores dentro do prazo estabelecido, e não temos problemas legais, facto que também se deve ao trabalho dos executivos anteriores das duas juntas. Este ano, realizámos um acordo de pagamentos entre a União de Freguesias e a Câmara de Santarém, em que foram liquidados de imediato todos os valores aos fornecedores.
RR: Por parte da população, como foi aceite esta mudança de figurino administrativo?
Susana Veiga Branco: Após um clima de desconfiança natural inicial, as pessoas começaram a verificar e a confiar mais no trabalho desenvolvido. Há, na dinâmica de defesa e implementação dos direitos, necessidades e aspirações da população, um aplicar do foco do nosso trabalho, que sempre foi, é, e será o bem-estar das pessoas das nossas freguesias.
Por isso mesmo, e havendo a questão de fundo de cada freguesia ter a sua própria identidade e preferencialmente serem independentes, a assembleia e o executivo, após ouvirem as populações, por unanimidade votaram favoravelmente ao envio da proposta de desanexação e criação de duas novas Freguesias para a Assembleia da República, aguardando-se agora resposta.
Quando se cumpre, tal como está a suceder, não discriminando mas observando a igualdade de ação para ambas as freguesias, obtêm-se resultados visíveis e positivos; a população sente na pele essa forma de ser e essa é a missão que nos propomos alcançar diariamente.
RR: Enquanto presidente da Assembleia de Freguesia, como tem visto a evolução deste processo e a participação da população?
SVB: Como sabemos, a Assembleia é o órgão deliberativo, mas poderá e deverá ser mais, ser o pilar, ser referência e realmente centro decisório beneficiador da população. Conjugando orientações políticas e ouvindo as pessoas, chamando a população até nós, orgulhando-nos das decisões tomadas. Há que trabalhar em conjunto para construir o presente e o futuro, tendo em conta as necessidades individuais e conjuntas da população.
Inicialmente, entre os membros da própria Assembleia, houve tempos difíceis, de atrito e até mesmo alguma impetuosidade no uso das palavras, mas que o tempo e o trabalho foram mitigando, existindo atualmente uma certa complementaridade, em que o rumo é a maioria das vezes o mesmo.
Por parte da população, sinto que a falta de participação nas assembleias se deve ao facto de tanto o presidente como eu mantermos uma relação muito franca, aberta, próxima e disponível com as pessoas, o que conduz a que muitas das questões que poderiam ser abordadas nas reuniões sejam feitas connosco, no dia corrente. Estamos sempre presentes em todas as atividades e somos abordados pessoalmente. Dada esta relação de proximidade e confiança, reencaminho para o executivo a necessidade de resolução de imensas situações, tal como o executivo procede à tentativa de resolução dos problemas com celeridade.
RR: Quais são as principais obras e investimentos a destacar neste mandato?
RC: Os principais investimentos realizados foram obras prioritárias, como a recuperação e melhoramento de património, de espaços e caminhos públicos e aquisição de equipamentos. Por exemplo, recentemente construiu-se um palco no Campo Desportivo do Alvitejo e melhorou-se o espaço público do Jardim de S. Vicente.
Mas a nossa preocupação principal é a resolução de problemas prioritários da população, que vão surgindo no dia-a-dia e que são fundamentais na vida de cada um.
RR: E o que há ainda por fazer, nos meses que restam até às próximas autárquicas?
RC: A fazer temos, no ano corrente, o alcatroamento de algumas ruas nas duas freguesias, um processo que está em consulta, e queremos avançar na criação de uma casa de convívio em Vale de Figueira, um projeto para servir a população que está em fase de licenciamento.
Podemos ainda igualmente referir que vai ser feita a conservação do tanque do povo no Brejo, temos o projeto de requalificação do espaço do Sobral, que aguarda candidatura, tal como a Ponte Romana e o Largo da Torre do Bispo tem um projeto de requalificação em estudo. Só ficarão por realizar os projetos para os quais não se conseguir financiamento, não por falta de tentativas, e mesmo assim não desistiremos até ao final do mandato.
RR: As delegações de competências têm sido acompanhadas por um aumento de verbas ou, comparativamente com a forma de gestão anterior, é mais complicado atingir os objetivos?
RC: Tem havido uma coordenação de serviços entre funcionários e equipa, entre as duas Freguesias, havendo uma rentabilização de ambos. A delegação de competências dá-nos liberdade decisória, embora a extensão das freguesias seja muito grande e não possamos, nem economicamente nem tecnicamente, fazer face a tanto quanto desejaríamos. É o caso da limpeza de bermas várias vezes por ano, que só podemos realizar uma vez. Ou seja, embora a delegação de competências tenha trazido um acréscimo de verbas, elas não chegam para colmatar as exigências correspondentes.
RR: Neste mandato, tem-se verificado uma atenção especial com a ação social. Porquê?
SVB: A ação social é uma prioridade, sem dúvida, pois sem ela o nosso trabalho seria incompleto e desprovido de sentido. Investimos, através da Comissão Social de Freguesia de S. Vicente Paúl e Vale de Figueira, e em parceria estreita com as entidades da economia social, escolas, população e autarquia para fazer mais do que solidariedade, pois isso não chega. Tentamos capacitar as nossas crianças, famílias e população com formação que leve a prescindir ou colmatar as necessidades de apoio, mas claro que a intervenção em situações de precariedade é realizada rigorosamente, encaminhando para equipas especializadas cada sinalização, mantendo a confidencialidade e acompanhando caso a caso individualmente. Temos também o imprescindível apoio da paróquia, na pessoa do Padre Aníbal Vieira, e uma vontade enorme de ver os nossos fregueses orientados e, no fundo, felizes. É este sentido que nos move.
RR: Esta União de Freguesias tem um movimento associativo bastante significativo. Como tem sido a relação com as associações e coletividades locais?
RC: Temos um total de 16 associações, todas bastantes ativas em termos de agenda cultural anual, as quais apoiamos de acordo com as iniciativas de cada uma e com as nossas possibilidades, tal como todas estão também disponíveis para a União quando solicitadas. Temos, como exemplos desta parceria, um grande evento na União de Freguesias, as Tasquinhas do Alviela, onde tudo é colocado à disposição das coletividades presentes para que consigam tirar o máximo de rentabilidade. Também as festas e eventos existentes em ambas as freguesias promovidos pelas várias associações podem contar sempre com o so apoio. Isto revela que somos uma União de Freguesias com intensa atividade cultural, dinamizando recursos e população no sentido de melhorar a qualidade de vida populacional.