A Assembleia Municipal do Cartaxo aprovou na quinta-feira, 28 de Junho, uma actualização do tarifário dos serviços de água e saneamento, que, na prática, se vai traduzir em novos aumentos que os munícipes vão sentir no bolso quando receberem a factura em casa.
As interpretações políticas e as divergências percentuais nos cálculos da subida dos preços que vão ser doravante praticados pela Cartágua (empresa privada que gere o sistema no concelho) provocaram algumas trocas de palavras bastante azedas entre os eleitos do PS e a restante oposição. O debate foi muito caloroso e chegou a raiar a ofensa, nas intervenções mais animadas.
A maioria socialista, apoiada nas explicações dadas pelo executivo que gere a Câmara, admite que os aumentos rondem os 4,95%, mas nas contas de todas as bancadas da oposição (PSD, CDU e BE), há subidas que chegam aos 16% em algumas taxas que afectam as famílias mais numerosas e as famílias carenciadas, abrangidas pelo regime do apoio social.
Câmara sustenta que aumentos nem se vão sentir
Na sua intervenção, o presidente Paulo Varanda explicou que a Câmara teve em especial atenção o momento de dificuldades económicas que as famílias atravessam, e que os valores pagos pelas empresas vão mesmo baixar.
De acordo com o autarca, 80% dos agregados do concelho terão um acréscimo final que não ultrapassará os 0,5 euros, assim como os estabelecimentos comerciais vão ver a sua factura baixar com alguma relevância, consoantes os níveis de consumo que atinjam.
Como as explicações de Paulo Varanda não convenceram a oposição, o novo protocolo entre a autarquia e a Cartágua acabou por ser aprovado com 11 votos favoráveis do PS, duas abstenções (também de eleitos socialistas) e oito votos contra, de todas as bancadas da oposição e de Rita Monteiro, uma independente eleita pelo PS que se recusou inclusivamente a subscrever a declaração de voto apresentada pelo grupo do Partido Socialista.
Declaração de voto acende rastilho
A declaração de voto em causa é um ataque directo que tem como alvo único o Bloco de Esquerda do Cartaxo, acusado pelos socialistas de lançar “campanhas de desinformação” com o objectivo de atingir a “manipulação da opinião pública”.
No documento, os eleitos do PS dão-se por satisfeitos com os esclarecimentos prestados e negam os aumentos denunciados em relação às famílias numerosas e carenciadas, “entre outros erros”.
Apesar dos outros dois partidos – PSD e CDU – também os terem referido, a declaração lida por António Pego acusa os eleitos do Bloco – Pedro Mendonça e Odete Cosme – de “lançar ideias e conceitos errados para que fique interiorizado na população um sentimento de revolta, quase a raiar a anarquia, situação que se reveste da mais completa deslealdade institucional”.
“Nunca a oposição política no Cartaxo contou com elementos de nível tão duvidoso como nos últimos tempos”, lê-se ainda na declaração que Rita Monteiro se recusou a subscrever, antes de Pedro Mendonça, na resposta, ter aconselhado António Pego a pedir a demissão de eleito municipal.
Bloco de Esquerda diz ao PS para “ganhar vergonha”
“Se não estão habituados a que a verdade seja dita, habituem-se, meus senhores!”, retorquiu Pedro Mendonça, referindo que nem ele próprio já acredita “que a maioria dos militantes do PS no concelho subscreva o disparate que acabou de ler”.
“Não foi o Bloco de Esquerda que criou a situação catastrófica em que a Câmara está, e também não é o Bloco de Esquerda que está a aumentar a água no Cartaxo. E isto é a verdade, não é baixar o nível”, sublinhou o eleito bloquista, para quem “tem havido um regabofe com dinheiros públicos, e não foram os elementos do Bloco, da CDU e do PSD que os gastaram”.
Pedro Mendonça terminou a sua intervenção dizendo aos eleitos do PS para “ganhar vergonha”, uma vez que foram eleitos “para defender os interesses das pessoas, e não os seus camaradas”.
No rescaldo do debate sobre o assunto, todos os partidos da oposição se queixarem de terem colocado questões concretas que não obtiveram respostas por parte do executivo que gere a Câmara do Cartaxo.