O Centro Desportivo de Fátima, clube que disputa atualmente a 1ª divisão da Associação de Futebol de Santarém, comemora este domingo, dia 24 de janeiro, o 50º aniversário da sua fundação.
A ligação ao Santuário de Fátima é muito mais que uma partilha de nome, a começar pelo responsável máximo do clube, António Pereira, padre na diocese de Santarém e a alma do clube.
“Em janeiro da 1970 fui inscrito como jogador-treinador no então Centro Paroquial de Fátima. Depois, passei a ser só jogador e, de facto, nestes primeiros anos no CPF, nos distritais de Santarém, fiz um pouco de tudo. Os presidentes, de então, eram figuras de destaque, sem ligação ao futebol e raramente apareciam, pelo que delegavam em mim. Fui presidente 3 vezes em cerca de 10 anos”, recordou o Padre Pereira à Rede Regional.
De então para cá, a história repete-se: quando há crises diretivas no clube de Fátima o Padre António Pereira aparece sempre como uma espécie de salvador da pátria. De facto, conheci umas 4 crises no Fátima e estive em todas, mas não fui eu a resolvê-las. Apenas ajudei. Muita gente deu o seu apoio”, diz, com a modéstia que o caracteriza.
Para muitos, o Fátima é considerado o melhor clube do distrito e o presidente do clube não nega essa distinção. “Em termos competitivos, o Fátima tem sido um pilar do futebol de Santarém mas temos de olhar para as diferentes épocas. Nos últimos tempos, talvez, mas sem esquecer outras equipas”, afirma.
O clube tem cerca de 600 sócios inscritos, mas pagantes talvez metade. António Pereira reconhece que este sector já funcionou muito melhor, assim como os lugares cativos, que já foram mais de 150.
Relativamente à situação financeira do CD Fátima, não é segredo que o clube está difícil. “Estamos a tentar resolvê-la e vamos conseguir. Se houvesse mais união e ligação ao clube, tudo seria mais fácil”, afirma.
Abdulmonti Kaaki, um sheik natural da Arábia Saudita, é o atual presidente da SAD do Centro Desportivo Fátima, no qual investiu cerca de 250 mil euros. “A sua vinda deve-se inteiramente ao treinador Ricardo Monsanto. Foi ele que no-lo deu a conhecer. O sr. Kaaki veio a Fátima, conheceu-nos e, desde a primeira hora, mostrou por nós uma grande estima e amizade. Diria que ele está aqui porque gosta de Fátima e das suas gentes, particularmente do diretores do CDF”, explica o padre Pereira.
Relativamente à queda do CD Fátima ao “distrital” depois de no final da época de 90 ter militado, durante quatro épocas na II Liga, então, treinado por Rui Vitória, atual treinador do Benfica, o presidente do clube esclareceu a mesma aconteceu numa altura em que o clube vivia tempos difíceis e confusos. “Não havia grande ambiente. Tentámos resolver os problemas em cima do joelho, tarde e a más horas. Contudo, acredito que teria sido possível evitar a queda”, reconhece.
Dessa época recorda ainda o facto de ter sido ele a batizar as duas filhas do atual treinador do Benfica.
Para a atual temporada os objetivos da equipa são conhecidos. “Esta época é subir ao Campeonato de Portugal e a seguir tentar a II Liga. E depois, continuar a sonhar. Vamos aguardar”, afirma o principal responsável do clube de Fátima.
O CD Fátima também pratica futsal masculino (2ª divisão nacional) e feminino, onde tem conquistado alguns troféus. Mas, sobretudo, tem apostado na formação em todos os escalões. “Temos mais de 400 elementos, entre atletas, treinadores e diretores”, revela o padre António Pereira, admitindo que o futebol praticado no distrital de Santarém, “não é forte, pelo menos a nível da divisão principal. O mesmo não digo das equipas deformação, onde se trabalha muito bem. Mas penso que nas outras associações não é melhor”, analisa.
E como é dirigir um grupo de trabalho com várias religiões? O padre Pereira explica que “a religião vivida corretamente só pode e deve unir. Por vezes, são causas estranhas que criam conflitos. Aqui nada disso acontece. Respeitamo-nos, estimamo-nos e trabalhamos bem”, completa.
Meio século de dedicação
António Martins Pereira, natural de Sobrado, no concelho de Valongo, distrito do Porto, nasceu a 30 de outubro de 1943 e foi ordenado sacerdote a 29 de junho de 1969, em Fátima, depois de ser ter formado em Teologia pela Universidade de Roma.
Como padre, esteve nos primeiros 18 anos ligado ao ensino em Fátima, onde ocupou o cargo de diretor do CEF e ajudou a fundar o Centro de Recuperação Infantil. Na altura, era capelão na paróquia de Ourém, nas localidades de Bairro, Salvador e Outeiro das Matas, e Montelo, em Fátima.
Após este período foi quatro anos para os Estados Unidos ,onde colaborou na Paróquia Portuguesa de Elizabeth, em Nova Jérsia.
De regresso a Portugal, foi para o Alentejo (Castro Verde e Ourique), onde foi pároco de 1991 a 2000. Regressou, então, a Fátima onde se encontra atualmente, exercendo atalmente, aos 72 anos, funções de pároco em Amiais e Abrã, no concelho de Santarém, e Monsanto e Moitas Vendas, no concelho de Alcanena.
Como jogador de futebol, jogou sempre no Fátima. Contudo, terminou no Vasco da Gama quando faltavam 3 jogos para terminar o campeonato e o clube corria o risco de descida. Só jogou 2 jogos, que ganharam, tendo marcado 3 golos no primeiro e 1 no segundo, já não sendo preciso jogar no último porque a manutenção estava garantida.
Participou em muitos torneios de futebol de salão organizados em Fátima e arredores e, se não foi o primeiro, foi um dos primeiros padres a jogar futebol federado em Portugal.
No inicio do CPF colaborou no atletismo, que ajudou a fundar e a conquistar um título de campeões nacionais juvenis em cross, numa altura em que o professor Ramos era o grande animador da modalidade.
Colaborou, igualmente, no hóquei em patins quando o Fátima criou a modalidade e, também, na patinagem artística.
Grácio dos Santos