Fernando Costa iniciou a sua carreira de jogador de futebol no Juventude da Chamusca, passando depois pelo então Paroquial de Fátima, Académica de Coimbra, União de Almeirim, União de Leiria, Olhanense, O Elvas, Torres Novas, Naval 1º Maio e Atlético, entre outros. Terminada a carreira de jogador começou a de treinador, rendo estado cinco épocas no Pego e duas no Desportivo de Torres Novas, mas agora está sem treinar e por opção própria. Fomos saber porquê.
Rede Regional – Há duas épocas que não treina. O não estar a treinar é uma opção sua ou não lhe tem aparecido projetos?
Fernando Costa – Felizmente é por opção porque tenho tido vários convites neste ano e meio e alguns bastante ambiciosos… tanto de 2ª divisão Nacional como de 1ª distrital e até do rejuvenescimento de um grande clube, convite feito por uma pessoa que muito me honrou…
RR – Treinador de nível II, tem treinado poucos clubes (infantis do Benfica de Abrantes, seniores do Pego (5 épocas) e seniores do Torres Novas(2 épocas) .A que se deve tal ?
FC- Quanto ao ter treinado poucos clubes, posso dizer que ainda bem, pois deixei de fazer uma das coisas que mais amei na vida, que foi jogar futebol até aos 39 anos, com muita paixão, dedicação e profissionalismo… e fazendo contas com a idade que tenho, a idade que deixei de jogar futebol e os clubes que treinei, não podia ter treinado muitos mais… mas treinar por treinar ou para ter clube, comigo jamais. Tenho de me identificar com o clube…
RR – Sabemos que é um empresário agrícola de grande dimensão. É isso que o tem levado a afastar-se do futebol?
FC- Sim, felizmente é verdade. São 100 hectares de terras de arroz que requerem muita dedicação, muito trabalho (que na época alta poderão chegar ás 15/16 horas por dia), para além do investimento ser muito grande e o retorno só se saber no fim do ano… E, como calcula, já não se ganha no futebol o suficiente para metermos alguém a fazer as horas que deixamos de trabalhar para ir dar treinos e sobre isso, a ultima experiência nesse capitulo foi horrível…
RR – Mas, se lhe aparecesse um projeto credível, aceitava?
FC- Nunca se deve dizer não, mas dificilmente isso deverá acontecer. Como disse o projeto agrícola é muito arrojado e ambicioso, depois para quem me conhece sabe que me dedico às causas a 100% e sempre gostei de assumir as minhas lutas de corpo e alma, pois não sou de arranjar culpados. Digo aos meus amigos – e falando de futebol, aos meus jogadores, que o meu sucesso depende de mim e nunca da sorte. Não acredito em azar, mas sim em muito trabalho, muita crença e muita perseverança… e aceitando outro projeto, só com condições ímpares, o que no nosso distrito duvido que haja e longe do meu trabalho, jamais…
RR – Embora afastado do futebol, com certeza que tem acompanhado o futebol distrital de Santarém. Que análise faz do mesmo?
FC- Afastado e bem afastado, pois desde que saí do CDTN, vi quase todos os jogos do meu filhote e no distrital vi a final do Inatel entre o Alferrarede Velha – Paço dos Negros, no Sardoal e a U. Abrantina – Torres Novas, ambos os jogos a convite da minha filhota (por uma razão especial)…
Fora isso, tenho visto muito futebol na tv, tenho lido muito, visto muitos vídeos, ver e analisar novas ideias para me manter atualizado…
Quem me conhece, principalmente porque me acompanha ou trabalhou comigo, sabe que não gosto de confusões, de jogos sujos, de bate boca com jogadores ou treinadores adversários e na minha ultima época vi coisas que não me agradaram, e depois houve amigos que chegaram a ligar-me para ouvir treinadores a ofenderem-se em directo em algumas rádios e pelo que me contaram isso era frequente acontecer, para além de “alguns” aproveitarem a rádio para lavar roupa suja e senti que esse não era o meu futebol.
O meu futebol não é de ganhar a qualquer custo, passando por cima de tudo e todos para atingir bons fins… Pois está mais que provado que quem anda no futebol e na vida sem dignidade, mais cedo ou mais tarde, cai e normalmente depois dizem que a culpa do seu insucesso é dos outros…
Por outro lado, aproveito para dar os Parabéns ao CD Fátima, assim como aos seus treinadores, João Henriques e Luís Morgado, pela subida de divisão… ao André Luís, do Cartaxo, pelas duas excelentes épocas que está a fazer, pois estes dois clubes destacaram-se dos demais, fazendo um campeonato normal e tranquilo, já não conseguindo entender alguns clubes com historial Distrital e Nacional, estarem a 10, 20 e mais pontos do segundo. Do primeiro até se compreendia, mas…
RR – De todos os treinadores que teve, com quais mais gostou de trabalhar? Porquê?
FC- Tive muitos e bons Treinadores: Mário Wilson, Pedro Gomes – que a trabalhar eram o oposto um do outro – Manuel Cajuda, um psicólogo no foco ao treino/jogo; Bernardino Pedroto, na inovação ao treino e no saber estar; Prof. Carlos Dinis, nas qualidades humanas; Mario Nunes, pela excelente pessoa que jamais esquecerei; Rui Lopes, pelo rigor/qualidade ao treino/jogo e ao nível distrital Gabriel Barra, grande homem… quanto a outros treinadores, cada um à sua maneira de ser e estar, também deixaram a sua marca…
Mas de todos o que mais me marcou, foi meu treinador quase 3 anos e (o ultimo no Atlético) talvez o menos conhecido, o António Carraça (que foi director desportivo do Benfica). Em todas as vertentes no futebol: muita qualidade mesmo, uma referência… para além disso, sempre me acompanhou e se preocupou comigo. É um amigo…
RR – Entretanto, tem um filho que seguiu as pisadas do pai (Costinha, jogador do Louletano) …
FC- Sim é verdade. É um miúdo com muita qualidade, quem tem tudo para seguir em frente, está ligado à empresa do Fernando Meira. Ele foi para o Algarve para poder estar mais perto de acabar um curso agrícola no Alentejo, pois ele também está envolvido no meu projeto agrícola e sobre o futuro a Deus pertence. Mas ele está avisado de todos os entraves que o futebol tem por trás e ciente que de um momento para o outro tanto poderá ganhar bom dinheiro, como poderá vir trabalhar comigo, pois quem anda no futebol abaixo da segunda liga sabe que não vale a pena fazer do futebol profissão, e, nesse caso dá-me um jeitão aqui a mim e… na boa porque ele gosta disto…
RR – Como treinador alcançou algum título?
FC- Fui campeão distrital e subi duas vezes de divisão.
RR – Dos anos de treinador o que mais quer realçar?
FC- Posso realçar, e para quem me acompanhou, amigos e jogadores, que o trabalho desenvolvido no CP Pego durante quase 5 anos foi de um enorme trabalho, sempre com muita paixão e dedicação e que jamais será para esquecer… e que agradeço o reconhecimento das pessoas que ainda hoje me contactam….
Não esquecendo a campanha do CD Torres Novas na 3ª divisão, que se não tem acabado garanto que o clube ainda hoje lá estaria e mesmo no distrital depois de tantos problemas, perdemos em Ourém a 3 jogos do fim a possibilidade de lutarmos pelo título distrital…
RR – O que mais o orgulha neste momento?
FC- Orgulha-me a minha família, as amizades que fiz e tenho do futebol. Assim como as constantes chamadas e mensagens de ex-jogadores meus a pedirem-me para voltar, assim como alguns presidentes quando nos encontramos e também árbitros do distrital e alguns que falo mais do Nacional que muito me “chateiam” para não me afastar…
RR – Quer deixar algum recado ou chamada de atenção?
FC- Não tenho por hábito dizê-los em público, mas faço um apelo a todos os agentes do futebol: quem não atingir os objetivos, que saiba assumir os próprios erros e que quem os conseguir saia digno e personalizado ou então para todos os que não o conseguirem assumir os erros ou não saírem dignos dos êxitos, deixem o futebol em paz, que ele agradece…
Grácio dos Santos