A União Desportiva de Santarém, que já por duas vezes foi campeã nacional da 3ª divisão (1974/75 e 1984/85) e, por consequência, disputou várias vezes a então 2ª divisão nacional, entrou nos últimos anos numa prolongada hibernação, da qual, ultimamente, tende a emergir, graças a uma direcção dinâmica que tudo tem feito para o ressurgimento do clube.
Agora, sob o comando do treinador Gonçalo Carvalho, de 33 anos, e após ter garantido o acesso à fase de apuramento de campeão, o União escalabitano procura subir à 1ª divisão distrital como explicou à Rede Regional o treinador unionista.
Rede Regional – Qual o objetivo na fase de acesso à 1ª divisão?
Gonçalo Carvalho – Tendo alcançado esta fase final, o nosso objetivo principal passa por discutir todos os jogos e vencê-los, possibilitando o acesso à 1ª divisão distrital. Sendo treinador de um clube com esta história e com estes pergaminhos, outro objetivo não seria de esperar. Contudo, nesta fase estão as equipas mais bem-sucedidas da fase regular, todas com legítimas intenções de vencer, com valor e potencial para proporcionar um campeonato extremamente interessante.
RR – Como são as condições de trabalho no União?
GC -A União Desportiva de Santarém tem uma grande limitação naquilo que é o processo de treino, em todos os escalões, que é o seu campo. Quando as condições meteorológicas são mais adversas, é complicado agilizar os treinos das equipas do clube, e o escalão sénior não é exceção. Mas a relva é muito bem tratada, bem estimada, há uma boa comunicação entre treinadores e diretores do clube, e tudo acontece de forma natural.
No que respeita a material e apetrechamento, é-nos facultado tudo o que necessitamos para desenvolver o nosso trabalho da melhor forma possível. Sinto um grande esforço e dedicação por parte da direção do clube para que não falte nada a nenhuma equipa. Não querendo individualizar, porque o trabalho é coletivo, parece-me justo destacar o presidente António Vila, o Sr. Júlio Galveias e o Hugo Ribeiro, que têm sido incansáveis no proporcionar as melhores condições ao grupo de trabalho.
RR – O União tem estruturas para disputar a 1ª divisão?
GC -É uma pergunta difícil, pois estou no clube somente desde agosto e não tenho o know-how do clube noutras ocasiões, mas acredito francamente que sim. A União Desportiva de Santarém é enorme, sente-se isso, e como clube histórico que é terá que ter forçosamente condições para estar entre os melhores clubes do distrito.
RR – A população de Santarém apoia a equipa, estando presente nos jogos?
GC -Não tanto como queríamos, mas creio que esse é um problema geral que afeta todos os clubes. Os bilhetes não são baratos, tendo em conta o poder de compra da população, ainda que os clubes não os possam vender por uma quantia inferior; e temos dois clubes vizinhos a disputar a 1ª divisão.
Estas são duas razões objetivas para as bancadas não estarem tão compostas como desejaríamos. Mas um dos nossos objetivos da época passa por chamar as pessoas que gostam de futebol ao nosso estádio, identificarem-se com as pessoas e com os valores da nossa equipa, gostarem e apreciarem o que veem. Creio que irá ser conseguido. É agradável ver um jogo da UDS.
RR – Como é o ambiente no grupo de trabalho?
GC -Tenho uma equipa a sério, com um ambiente muito saudável e recheada de homens de bom carácter. O plantel é jovem, mas a equipa responde muito bem às exigências solicitadas, e qualquer elemento aceita opiniões, críticas e sugestões, quer da equipa técnica quer dos próprios colegas. Há margem para melhorar, mas estou muito contente com o nosso clima.
RR – Que análise faz do futebol praticado no “distrital” de Santarém?
GC -Creio que os campeonatos estão muito equilibrados, mas tem-se perdido qualidade. Não porque os intervenientes tenham menos potencialidades, mas porque a responsabilização, a dedicação e o próprio empenho e paixão nos treinos e jogos estejam aquém dos valores que já verificámos noutros tempos. Considero este ser também um problema geral. Contudo, temos bons jogadores no distrito, e cabe a todos os agentes desportivos incrementar a qualidade do nosso futebol, a todos o níveis.
RR – Em que clubes jogou o Gonçalo?
Gonçalo Carvalho – Fiz toda a minha formação na Associação Académica de Santarém (AAS), e um percurso na seleção distrital de Santarém em simultâneo com o da AAS. Como sénior, joguei no Estrela Futebol Clube Ouriquense, na União Desportiva da Chamusca, no União Futebol Clube Almeirim e no C.C.R.D. Moçarriense, clube da minha terra, onde terminei.
RR – E que clubes treinou?
GC -Como treinador, comecei na Académica de Santarém treinando equipas de futebol 7. Posteriormente treinei na Moçarria igualmente equipas de futebol 7 (passei por todas as idades, dos 5 aos 12), tendo orientado também a equipa de juvenis e seniores.
RR – Qual o seu nível de treinador?
GC – Possuo o nível II.
RR – Qual o seu objetivo como treinador? Não pensa em tentar o profissionalismo?
GC -Desde pequeno que o futebol é uma paixão inexplicável para mim, e ao longo do tempo fui-me dedicando ao treino e a todas as suas dimensões. Sou leitor, aprendiz, interessado e motivado. Preocupo-me em evoluir e ser melhor treinador hoje do que era ontem, e certamente melhor treinador amanhã do que sou hoje. Como tal, acredito que as coisas devem acontecer naturalmente e se o meu caminho for o do futebol profissional, cá estarei para abraçar esse desafio, de alma e coração.
Ainda assim, tenho o prazer de ser profissional do desporto e da educação, que também é uma vertente que me enriquece e me proporciona experiências e ensinamentos que guardo para a vida. Respondendo de forma direta à sua questão, quero ser profissional de futebol, mas há que percorrer o meu caminho da melhor forma possível, sem atropelos ou mal-entendidos.
RR – Já conquistou algum título? Ou uma boa classificação?
GC -Como jogador, tive muitas boas classificações. Posso destacar o campeonato distrital da 1ª divisão, pelo Estrela Futebol Clube Ouriquense e consequente subida ao campeonato nacional da 3ª divisão, bem como a subida de divisão pelos seniores do Moçarriense.
Como treinador de formação o meu maior título é verificar que os jogadores que treinei em idades jovens possuem todas as bases necessárias para serem bons jogadores. Mas posso destacarainda a presença das equipas de futebol 7 que treinei no Moçarriense em todas as fases finais dos respetivos campeonatos, e a subida de divisão com os juvenis e seniores também do Moçarriense.
Grácio dos Santos