A proposta partiu do PCP e teve ainda os votos a favor do PS, BE, Verdes, Iniciativa Liberal e das deputadas não inscritas Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues. O PSD votou contra, enquanto CDS-PP, PAN e Chega se abstiveram.
A decisão caberá agora ao Governo, mas tendo em conta o sentido de voto dos deputados socialistas, incluindo os eleitos pelo distrito, que votaram a favor, é praticamente certo que a recomendação será aprovada.
A ideia de dar o nome de Bernardo Santareno ao Hospital de Santarém partir do ex-presidente da autarquia, José Miguel Noras, que em 2020 sugeriu o “batismo” no lançamento de uma biografia da sua autoria com o título “Bernardo Santareno – da Nascente até ao Mar”.
Quem foi Bernardo Santareno?
Nascido em Santarém, a 19 de novembro de 1920, Bernardo Santareno – pseudónimo do psiquiatra António Martinho do Rosário – foi um dos mais relevantes dramaturgos portugueses do século XX, afirmando-se pela vasta obra literária, essencialmente no domínio do teatro, mas onde pontua a prosa e a poesia.
O seu primeiro livro de poesia, Morte na raiz, é publicado em 1954, com ele nascendo o pseudónimo Bernardo Santareno, em homenagem à sua cidade de Santarém e ao Santo Padroeiro do lugar de Espinheiro, onde nasceram Pai e Avós e onde passou férias na infância e adolescência. É como Bernardo Santareno que passa a ser conhecido no universo cultural português e internacional.
Nas duras viagens à pesca do bacalhau pelos mares da Terra Nova e da Gronelândia, em 1957 e 1958, embarcado como médico, escreve a peça O Lugre e o livro de viagens Nos Mares do Fim do Mundo, profundamente humanista. É Bernardo Santareno quem introduz na sociedade portuguesa uma nova forma de ver e de sentir o duro sofrimento dos pescadores, por contraponto à propaganda do regime.
No período que medeia entre 1957 e 1980, escreve dezasseis peças, que perseguem a luta pela liberdade e a dignidade do ser humano contra todas as formas de opressão – causas do intelectual de esquerda que sempre foi tendo aderido à Juventude Comunista em 1941, data a partir da qual milita no Partido Comunista Português. A última peça, O Punho, de 1980, só foi publicada postumamente, em 1987.
A importância da obra de Bernardo Santareno – desaparecido em 29 de agosto de 1980, e de cujo nascimento se celebra, em 2020, o centenário – reside na centralidade que deu aos direitos e às liberdades individuais por oposição aos preconceitos morais e sociais de um Portugal atrasado e isolado do resto do mundo, abordando temas originais e não consensuais para a época, como o papel da mulher na sociedade, nas instituições e no casamento.*
* Resumo da biografia apresentada para acompanhar o voto com que a Assembleia da República assinalou o centenário do nascimento de Bernardo Santareno.