A Câmara Municipal de Salvaterra de Magos assinalou este sábado, 15 de fevereiro, o 3º aniversário da inclusão dos Bordados da Glória do Ribatejo no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.
No âmbito deste aniversário, o Espaço Jackson, em Glória do Ribatejo, recebeu a inauguração da exposição “O Enxoval”, apresentando mais de uma centena de peças, recolhidas junto da comunidade local, relacionadas com a temática e com especial destaque para a “roupa da cama”: lençóis, fronhas e colchas. São verdadeiras obras de arte onde são empregues cores e símbolos variados, criadas de acordo com a originalidade e o gosto das suas autoras.
Em Glória do Ribatejo, o enxoval era preparado pelas mulheres desde tenra idade, mal começavam a aprender a bordar/ “marcar”, fazendo os seus primeiros paninhos, sob a supervisão das mulheres mais velhas. Uma tarefa que faziam com gosto e rigor e que as acompanhava por toda a vida, sempre que tinham um tempo livre, fosse ao final do dia ou nas folgas do trabalho.
Estas peças tinham uma funcionalidade prática, quer na indumentária da mulher, das crianças, do homem, em objetos do dia a dia, ou como as próprias diziam, na “roupa para vestir a casa”: lençóis, panos, cortinas e decoração de móveis.
Integrado nas comemorações foi também apresentado o livro, editado e publicado pela Câmara Municipal, “Recolhas na Glória: Reminiscências e Evidências”, da autoria de Alexandra Dias e Álvaro Pote.
“Quando tivemos conhecimento que este trabalho estava a ser desenvolvido, prontamente dissemos que tínhamos vontade de o tornar público e divulgar porque este livro tem a particularidade de apresentar a transcrição em texto do que foi recolhido em vídeo, tem fotografias da terra e das pessoas que ajudaram e tem uma componente importante a sustentar o material recolhido: o vídeo, que pode ser acedido de forma digital, através de QR Code”, explicou o presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, Hélder Manuel Esménio, agradecendo aos autores os anos de recolha e de trabalho.
“Este é mais um trabalho de estudo do património desta comunidade porque salvaguarda a componente cultural, a História e as histórias, as tradições, usos e costumes, as vivências e pretende-se que seja uma singela homenagem a todas estas pessoas que souberam transportar até aos dias de hoje esta cultura e estes saber-fazer que permitiu classificar os Bordados da Glória do Ribatejo como Património Nacional”, acrescentou o autarca.
O livro “Recolhas na Glória: Reminiscências e Evidências” apresenta, em suporte físico e digital, um conjunto de recolhas – cantigas, rezas, orações, quadras, lengalengas -, relacionadas com a tradição popular de Glória do Ribatejo, realizadas por Alexandra Dias entre 2007 e 2024.
“Quando começámos a organizar as recolhas, percebemos que tínhamos em mão um tesouro que devia e merecia ser partilhado com todos”, disse a autora, acrescentando que “foi um gosto muito grande ter feito parte destas recolhas e principalmente ter vivido com as informantes, que partilharam as suas vivências, histórias, rezas, cantigas”.
“Entendemos que o trabalho tinha muito mais valor se conseguíssemos fazer a ligação do que foi recolhido ao vídeo”, acrescentou Álvaro Pote.
Recorde-se que a 4 de fevereiro de 2022, a então Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), atual Património Cultural – I.P. inscreveu a manifestação de “Os Bordados da Glória do Ribatejo” no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.
Os Bordados da Glória do Ribatejo são uma manifestação que se mantém ativa há várias gerações na Glória do Ribatejo. Este saber-fazer, transmitido oralmente e em contexto prático pelas mulheres de Glória do Ribatejo, era e é aplicado na elaboração de várias peças. A simbologia e funcionalidade associadas à aplicação destes bordados confere-lhes características que os diferencia de outros bordados, sem qualquer expressão comercial.