Santana-Maia Leonardo
Sem o VAR, uma pessoa ingénua ainda dá o benefício da dúvida sobre a honestidade do árbitro. Com o VAR tornou-se evidente o estádio de corrupção a que isto chegou. Porque, se é admissível que o árbitro e o fiscal de linha se possam equivocar num lance, já não é admissível que o VAR só veja o que lhe interessa, favorecendo intencionalmente uma das equipas.
O VAR no futebol inglês ou alemão até pode resultar mas, num país de batoteiros como é o nosso, apenas serve para acentuar ainda mais o fosso entre aqueles que baralham e escolhem as melhores cartas e os que têm de jogar com as cartas que lhes dão. O VAR, em Portugal, serve exclusivamente para corrigir as decisões erradas e distorcer as decisões correctas da equipa de arbitragem, sempre que prejudicam os chamados "Grandes".
Resumindo: não adianta mudar de tractor quando o problema é do tractorista. A lei que permitia o adiamento dos julgamentos por atestado médico foi copiada da lei alemã. Só que, na Alemanha, era raríssimo haver um adiamento por doença, enquanto em Portugal todos os arguidos passaram a estar doentes no dia do julgamento. A lei era a mesma, mas o povo é muito diferente.
Nós somos um povo estruturalmente corrupto e que convive bem com a corrupção. Para os outros, o nosso grau de exigência é máximo; para nós e para os nossos, somos de uma tolerância extrema. A maioria dos portugueses vende-se por uma rodela de chouriço, sem sequer perceber que, mais tarde, vai ter de pagar o porco. E a pior corrupção e a mais eficaz é aquela que corrompe o sistema, em vez de corromper directamente o agente. É o que se passa na nossa vida política (autárquica, regional e nacional) e foi precisamente isso que o Porto fez no Apito Dourado e o Benfica no Mailgate. E, pelos vistos, o futebol português está agora a entrar numa nova era: a era da verdade desportiva à moda da Coreia do Norte.
O Sporting, reconheço, foi até há pouco tempo um sinal de esperança... Mas, com a eleição de Bruno de Carvalho, entrou também na era do vale tudo de Pinto da Costa e Filipe Vieira. E a estratégia é sempre a mesma: diabolizam um inimigo para fanatizar os adeptos (Pinto da Costa diabolizou o Sul, Filipe Vieira diabolizou o Porto e Bruno de Carvalho diabolizou o Benfica) e, a partir daí, entramos no mundo da irracionalidade das massas típica dos movimentos fascistas e comunistas. Como dizia, W. Reich, "a irracionalidade é o fascismo."
O discurso e os métodos usados pelos presidentes do Benfica, Sporting e Porto, com recurso à manipulação de imagens e de notícias, às cartilhas, aos insultos, aos directores de comunicação e à fanatização dos adeptos são típicas dos movimentos fascistas e estalinistas. Mas nós somos o país ideal para este tipo de comportamento, tanto assim que Salazar e Cunhal foram eleitos pelos portugueses, ainda há pouco tempo, como os dois maiores vultos da nossa história.
É certo que, em toda a Europa, os jogos entre grandes e pequenos é sempre uma luta entre David e Golias. Só que, na liga portuguesa, os Golias, com medo de levar uma pedrada no meio da testa, só aceitam combater com David, depois de lhes algemarem as mãos atrás das costas.